A Geopolítica do Medo: O Mundo Refém da Força

O Século XXI sob Tirania: O Mundo Segundo Hannah Arendt
por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas
Vivemos um tempo onde a força substitui o direito, a propaganda mata a verdade, e a crueldade tornou-se ferramenta institucional.
Das potências autocráticas às suas redes de proxies, o mundo escorrega de novo para o abismo que Hannah Arendt tão bem conheceu: o da banalidade do mal.
📉 O declínio do século das promessas
O século XXI nasceu com promessas de globalização pacífica, sociedades de conhecimento, direitos universais e democracias resilientes.
Mas o que temos hoje?
- Putin a bombardear escolas e maternidades, sem julgamento nem vergonha.
- Xi Jinping a silenciar milhões sob vigilância algorítmica e campos de "reeducação".
- Kim Jong-un a brincar com mísseis como se fossem fogos-de-artifício numa festa de terror.
- O Irão teocrático a exportar morte em nome de Alá.
- E seus tentáculos — Hamas, Hezbollah, Wagner, milícias, hackers — a espalhar o medo e a fragmentação.
Enquanto isso, as democracias hesitam, os mercados aplaudem, e os povos dormem.
🧠 Hannah Arendt e o retrato de hoje
Hannah Arendt viu nascer o monstro nazista.
Descreveu como o mal não precisava de ser sádico — bastava ser obediente, lógico, funcional.
"O maior perigo não são os monstros. São os funcionários que cumprem ordens sem pensar." — Hannah Arendt
E hoje? O que vemos nas ditaduras modernas?
- Crimes de guerra transmitidos ao vivo — e justificados com argumentos de segurança nacional.
- Tortura e repressão — legalizadas em nome da estabilidade.
- Oposição política — tratada como terrorismo.
- Populações inteiras — domesticadas por medo, censura ou miséria.
É a banalidade do mal 2.0 — agora com drones, firewalls, influencers e deepfakes.
🔗 As ditaduras conectadas: a nova Internacional do Terror
China, Rússia, Irão, Coreia do Norte — diferentes culturas, mas a mesma lógica:
- O Estado é absoluto.
- A verdade é moldável.
- A vida humana é descartável.
- O inimigo é qualquer um que pense por si.
Esta nova aliança global não precisa de acordos formais — basta-lhes o ódio à liberdade.
Usam proxies, milícias com causa, influenciadores de distração, e lacaios no Ocidente que relativizam tudo em nome de "entender o outro lado".
💣 E a ONU? E a Europa? E o mundo dito livre?
O Ocidente, com raras exceções, responde com:
- Sanções simbólicas.
- Comunicados de imprensa.
- Silêncios cúmplices.
- Negócios de gás, petróleo e chips.
A cobardia diplomática substituiu a coragem moral. A realpolitik tomou o lugar da decência.
⚠️ O risco da repetição
"Quando a verdade deixa de importar, tudo é possível." — Hannah Arendt
Estamos a repetir os anos 30 do século XX — com mais tecnologia, mas com os mesmos fantasmas:
- A verdade foi trocada pela narrativa.
- A justiça, pela conveniência.
- A memória, pela distração.
Conclusão: ou agimos, ou voltamos a cair
A História está a testar-nos. Ela sussurra aos nossos ouvidos:
"Quantos Auschwitz precisas para acordar?
Quantas Buchas?
Quantos campos uigures?
Quantas invasões?
Quantas mulheres enforcadas por protestar?"
O mundo arendtiano está de volta.
E se não formos agora os que gritam, amanhã seremos os que rastejam.
Porque a liberdade, se não for defendida, é enterrada em silêncio.
Num tempo em que as mentiras governam e os tanques ditam fronteiras,
recordar Hannah Arendt não é nostalgia — é resistência.
Porque quando o mal se banaliza, é dever dos livres tornarem-se perigosos.
Perigosos… para os tiranos.
Incómodos… para os cúmplices.
Inquebráveis… diante da mentira.
A História está a escrever-se. Que não nos apanhe de joelhos.