A Trama do Saque: 50 Anos de Favorecimento e Corrupção em Portugal

"Não é a pobreza que gera a corrupção. É a corrupção que eterniza a pobreza."
Augustus Veritas

I. Um país saqueado por dentro

Portugal, país de poetas e marinheiros, atravessou os últimos cinquenta anos a ser saqueado — não por invasores, mas pelos próprios filhos que, ao alcançarem o poder, passaram a ver o património público como pasto.

Desde o fim da ditadura, a retórica da liberdade foi capturada por uma elite que prometia ao povo, mas servia apenas aos seus interesses. A cada década, um novo escândalo; a cada ciclo, uma nova engenharia de favorecimento.

II. As três máscaras da corrupção portuguesa

  1. Favorecimento estrutural: concursos com cartas marcadas, compadrios institucionais, ajustes diretos.
  2. Impunidade judicial: prescrições, arquivos por falta de provas, processos que nunca chegam a tribunal.
  3. Narrativa de normalidade: a corrupção banalizou-se com a expressão "eles são todos iguais".

III. Exemplos concretos, feridas abertas

  • Anos 80: Fax de Macau, subornos e manipulação em adjudicações públicas.
  • Anos 90: JAE, milhões sem controlo, compadrio institucional.
  • 2000–2010: Freeport, Face Oculta, contratos e licenciamentos sob suspeita.
  • 2010–2025: Operação Marquês, BES/GES, milhões de euros em prejuízos encobertos.
Não foi um assalto. Foi uma ocupação prolongada.

IV. O preço da corrupção: desigualdade e resignação

Cada euro desviado é uma escola não construída, uma cirurgia adiada, um jovem emigrado. Portugal não é pobre por destino, mas por desenho. A abundância foi sequestrada.

V. O silêncio como cúmplice

A corrupção enraizou-se no costume. A falta de punição tornou-se cultura. A cultura, sistema. E a democracia, farsa. Hoje, a juventude vê na cunha o caminho, e no talento, um fardo.

Mas não há sistema que sobreviva eternamente à indignação adiada.

VI. Um novo contrato com a pátria

Portugal precisa de justiça restauradora, rutura sistémica, lideranças éticas e de um renascimento cívico. A mudança não virá de comissões parlamentares, mas de consciências despertas. Não virá de promessas eleitorais, mas de cidadãos implacáveis com a mentira e cúmplices apenas da verdade.

VII. A herança dos novos ricos

Portugal, no pós‑25 de Abril, viu os antigos monopólios e os "donos disto tudo" darem lugar a uma nova estirpe: políticos sem escrúpulos que chegaram à política com uma mão à frente e outra atrás — e saíram milionários dez anos depois.

As grandes fortunas concentraram-se nas mãos de novos ricos sem ética nem obra. Apoderaram-se dos impostos, dos fundos europeus, da coisa pública. Tomaram bancos e faliram-nos. E quando ruiu o sistema, foram os contribuintes que pagaram a factura.

Hoje são donos de bancos, imobiliárias, consultoras e sociedades de advogados. Mas nada produzem. Têm medo de investir, porque nunca trabalharam para ganhar. O seu dinheiro vive em offshores e betão. Portugal, esse, vive do turismo e da esmola europeia.

E eles, os medíocres endinheirados, tomaram conta de tudo: do país, da democracia, do futuro.

VIII. Conclusão: Quando a indignação se transforma em destino

Durante cinquenta anos, Portugal foi sendo saqueado por dentro — não por falta de talento ou recursos, mas por falta de vergonha de quem nos governou. Usaram o nome da democracia como escudo e usurparam o bem comum como espólio. Roubaram‑nos o presente em nome do futuro, e o futuro em nome de promessas esquecidas.

Mas a história não termina com um ponto final. Termina com um levante. Quando a indignação atravessa o povo como uma corrente eléctrica silenciosa, basta uma centelha para reacender a esperança. A revolução de amanhã não será feita de cravos — será feita de lucidez, justiça e coragem.

A pátria não é o Estado. É o povo desperto. A verdadeira riqueza não é o ouro escondido — é a voz que já não consente.

Que este seja o tempo em que deixamos de pedir e começamos a exigir. O tempo em que os medíocres saem de cena e os justos sobem ao palco. O tempo em que o país deixe, finalmente, de ser deles — para voltar a ser nosso.


Francisco Gonçalves & Augustus Veritas
Fragmentos do Caos, 2025

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