Box de Factos
• Desde os anos 80, a gestão em Portugal foi colonizada pela política e pela mediocridade.
• Economistas recém-formados foram promovidos a gestores sem experiência prática.
• Empresas públicas tornaram-se quintais partidários; privadas reproduziram os mesmos vícios.
• Resultado: baixa produtividade, fuga de cérebros, retrocesso civilizacional.

Gestão em Portugal: do mito da modernidade à realidade da mediocridade

A promessa quebrada das últimas quatro décadas

A gestão deveria ser a arte de conjugar visão, competência e humanidade. Em vez disso, em Portugal — e de forma semelhante em grande parte da Europa do Sul — transformou-se num território capturado por interesses políticos, burocracias inflexíveis e uma cultura de reverência hierárquica que asfixia qualquer sopro de excelência.

A década de 80 e a ascensão dos "gestores de gabinete"

A partir de meados da década de 80, instalou-se uma moda perniciosa: acreditar que bastava ter um diploma em Economia para se ser gestor. Como se a realidade complexa das empresas, dos trabalhadores e dos mercados pudesse ser reduzida a fórmulas e catecismos de manuais universitários.

Foi o início da ascensão dos gestores de gabinete: jovens formados em teorias, sem experiência prática, sem contacto real com o terreno. Alçados ao poder por partidos e redes de influência, tornaram-se os novos "iluminados" da governação empresarial. Mas em vez de trazerem modernidade, trouxeram mediocridade.

Empresas como quintais políticos

Em pouco tempo, empresas públicas e privadas converteram-se em campos de partilha de lugares:

  • Empresas públicas: usadas como moeda de troca partidária, onde a lealdade ao aparelho valia mais do que a competência.
  • Empresas privadas: capturadas por elites familiares ou por gestores que reproduziam os mesmos vícios da política — clientelismo, favores, promiscuidade.

O que se instalou foi a famosa "dança de cadeiras": sempre os mesmos nomes a circular, sem mérito demonstrado, mas sempre com reverência aos poderes instituídos.

A mediocridade institucionalizada

A consequência foi devastadora:

  • A produtividade nacional estagnou.
  • A gestão de pessoas tornou-se um apêndice burocrático, sem estratégia nem cuidado.
  • Criou-se uma cultura de medo e reverência, onde questionar a chefia era um tabu.
  • Os melhores — os que ousavam pensar diferente — emigraram ou foram empurrados para a margem.

Portugal passou a viver da sua própria mediocridade, enquanto outros países investiam em inovação, empreendedorismo e excelência profissional.

A Europa do Sul e o retrocesso civilizacional

Este não foi um fenómeno apenas português. Espanha, Itália e Grécia seguiram trilhos semelhantes. O resultado é hoje visível: elites burocráticas ocupam os lugares de topo, lideranças políticas frágeis comandam povos desalentados, e a Europa do Sul permanece num ciclo de retrocesso civilizacional.

Enquanto isso, o Norte da Europa e outras regiões do mundo ousaram apostar na visão de longo prazo, na valorização do conhecimento aplicado e na promoção de verdadeiros líderes.

O desafio do futuro

Se quisermos inverter este destino, é urgente romper com este modelo. Precisamos de gestores que não sejam apenas "leitores de manuais", mas criadores de soluções, líderes capazes de unir técnica e humanidade, visão e pragmatismo.

A gestão não pode continuar a ser um campo de cumplicidades partidárias e de mediocridade instalada. Tem de voltar a ser o espaço da excelência, da meritocracia, da inovação e da coragem.

Caso contrário, continuaremos a repetir o ciclo vicioso que nos trouxe até aqui: empresas frágeis, Estados ineficientes e sociedades desencantadas.

Escrito por Francisco Gonçalves em coautoria com Augustus Veritas (Lumen)
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