Há um momento, em todas as guerras, em que a verdade começa a escorrer por entre os escombros — e não grita, não vocifera, apenas sussurra por entre os mortos. O conflito entre Israel e o Hamas há muito ultrapassou o domínio da razão estratégica. Entrou na zona sombria da vingança crónica, onde o ciclo de violência alimenta-se do próprio sofrimento que causa.

O que fazer, então, quando ambos os lados parecem mergulhados num abismo que já não reconhece fronteiras morais?

De um lado, o Hamas, ainda armado, camuflado entre civis, inflamado por uma retórica de ódio e morte, com uma carta fundadora que pede o extermínio do Estado de Israel. Um movimento que não aceita a coexistência, que idolatra o martírio e manipula a dor do seu povo como arma política.

Do outro, um governo israelita que, sob o comando de Benjamin Netanyahu, responde com bombas de alta precisão e moral de baixa sensibilidade, reduzindo bairros inteiros a pó, com uma força brutal que não distingue combatente de criança. Tudo em nome da segurança, sim — mas uma segurança que está a criar o exato contrário do que pretende garantir.

A farsa da força total

Quando uma nação que se proclama democrática e civilizada responde ao terror com indiscriminada destruição, perde o terreno da razão. Não é por acaso que mais de 600 ex-chefes militares e do Mossad já vieram a público alertar: Netanyahu já não age em nome da segurança nacional, mas em nome da sua própria sobrevivência política.

E é essa manipulação — esse teatro de sobrevivência onde o povo é figurante — que envenena tudo.

Não há saída pela violência

A solução para o Hamas não está em rasgar Gaza ao meio com mísseis. Está em cortar as raízes do desespero, investir em dignidade, e sim, usar inteligência e precisão para neutralizar os líderes terroristas — mas sem enterrar milhares de inocentes no processo.

A comunidade internacional, por sua vez, continua a jogar às escondidas. Estados árabes condenam Israel em público e ignoram o Hamas em privado. A Europa balbucia lamentos diplomáticos. Os EUA tentam equilibrar armas e discursos.

E o povo? O povo morre.

O futuro entre ruínas

O futuro desta região só poderá nascer quando se erguer uma força internacional de mediação e reconstrução, com legitimidade real. Quando os palestinianos forem representados por lideranças seculares, e não por teocratas armados. Quando Israel aceitar que não pode continuar a ser uma fortaleza sitiada por muros e medo. E quando a dor de cada lado for reconhecida como humana, e não como argumento de propaganda.

Porque no fim, esta guerra não será vencida com drones, tanques ou slogans. Será vencida — ou perdida — na alma dos sobreviventes.


Francisco Gonçalves
Cronista da lucidez no meio do caos

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