Por Francisco Gonçalves
Fragmentos do Caos

Nos meados dos anos 70, nos meus 15 anos e por entre uma juventude rebelde e informada, eu sonhava e via o mundo a mudar todos os dias. E nos olhos levava o brilho de quem acreditava. Utopia dirão vocês ? Sim alguma, mas eu já nao era assim tão inocente, tinha lido exactamente "A Utopia" de Thomas Moore, muitas outras utopias, vendidas como os céus e muito mais do mundo e da humanidade.


Mas ainda assim, tal como via o enorme progresso da ciência no sec xx, acreditava num mundo novo e na constante evolução da humanidade. E num tempo em que o saber iluminaria os povos.
Em que as democracias floresceriam como jardins de liberdade.
Em que os cidadãos tomariam nas mãos o seu destino — livres, esclarecidos, dignos. Sem dogmas, tiranias e livres de pensar e mudar, fazer, construir um futuro de dignidade para todos.

Era essa a promessa do futuro.
E eu, como tantos, acreditei nela com todas as fibras do meu ser.

Mais de inquenta anos passaram.

Hoje olho à volta… e constato, com uma dor funda: enganámo-nos. Rotundamente. Tragicamente.

O que vejo não são cidadãos com espinha erguida.
Vejo massas educadas… mas não pensantes.
Licenciados que nunca leram além dos manuais obrigatórios. Doutorados sem ética, sem sentido crítico, sem um pingo de cidadania.
Gente que passou anos nas escolas e nas universidades sem nunca ter passado pela reflexão.

Indignam-se ao sabor da espuma, da onda do rebanho.
Marcham por narrativas infantis, por slogans vazios, por causas empacotadas para consumo imediato.
E perante a podridão do poder, o assalto ao erário público, a corrupção organizada… nem um esgar. Nem uma palavra. Nem um gesto.

Onde está a consciência que nos prometeram?
Onde estão os frutos da educação em massa, da internet, da globalização?
Para que serve tanto diploma se o espírito continua domesticado?

A verdade, por mais dura que soe, é que a humanidade não evoluiu — regrediu.
Retrocedeu em pensamento, em carácter, em coragem.
Estamos a perder o que conquistámos no final do século XX.
A civilização ocidental, farol de pensamento livre, está a ser corroída por dentro, anestesiada por conforto e distrações, e infiltrada por forças que desprezam tudo o que a tornou possível.

Talvez esteja mesmo na hora de parar.

De fazer um silêncio.
Pensar com seriedade brutal.
E talvez…
Voltar atrás.

Não às grilhetas da história, mas ao ponto onde o pensamento era semente e não algoritmo.
Ao tempo em que a escola formava mentes inquietas e não profissionais obedientes.
Ao tempo em que ser cidadão era um dever nobre — e não uma formalidade burocrática de ir votar e voltar para o sofá.


Porque a maior desilusão não é o que fizeram com o mundo.
É o que os próprios cidadãos aceitaram que fizessem.


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