Por Francisco Gonçalves — Fragmentos do Caos
07 de agosto de 2025


Num mundo onde a inteligência artificial já redige romances, os robôs assistem cirurgias e as democracias se esboroam sob o peso da desinformação digital, Portugal continua a ensinar como se ainda vivêssemos à sombra do império. A educação, que devia ser farol e catapulta, é hoje um labirinto de papelada, horários absurdos e matérias inócuas.

Vivemos numa escola que ensina para o passado, com métodos do século XIX, professores do século XX e jovens que enfrentarão um século XXI que já nos ultrapassou.


📚 Um Sistema que Forma Peões, Não Visionários

O modelo educativo português está construído como uma fábrica: sirenes, horários rígidos, disciplinas estanques, avaliação padronizada. O objetivo? Produzir cidadãos obedientes, capazes de memorizar para responder a testes, mas não de questionar o mundo, nem de reinventá-lo.

Em vez de preparar os jovens para a complexidade do real, a escola embriaga-os com conteúdos descontextualizados:

  • Sabem os afluentes do Mondego, mas não como criar um orçamento doméstico.
  • Decoram fórmulas de química, mas não entendem como funcionam os juros compostos que os empurrarão para créditos eternos.
  • Aprendem datas de batalhas, mas não a ler criticamente uma notícia ou um contrato de trabalho.

A escola finge ensinar. Os alunos fingem aprender. O sistema finge funcionar.


🧑‍🏫 Professores: Heróis Silenciados

Não há revolução educativa sem dignificar os seus soldados da linha da frente: os professores. Mas em Portugal, os docentes são tratados como funcionários de repartição. Carregam às costas turmas superlotadas, programas irrelevantes, reuniões inúteis e uma burocracia assassina. Muitos amam a sua missão — mas são empurrados para a desistência.

Pagos com salários de miséria, vigiados por direções mais preocupadas com rankings do que com alunos, obrigados a seguir manuais como se fossem dogmas, os professores são amputados da sua criatividade e autonomia.


🤖 O Futuro Já Chegou. A Escola Ainda Está à Espera do Autocarro.

Estamos a caminhar para um mundo onde:

  • 60% das profissões de hoje desaparecerão ou serão automatizadas até 2050.
  • A literacia digital, ecológica e emocional será mais vital do que saber fazer redações sobre "O Meu Verão".
  • A capacidade de aprender ao longo da vida será mais importante que qualquer diploma.

Mas a escola continua a preparar os alunos para... os exames. Como se a vida fosse uma folha de teste com tempo contado e espaço limitado. Como se a criatividade fosse uma anomalia. Como se a rebeldia do pensamento fosse uma ameaça.


🔧 O Que Fazer?

Não basta pintar as escolas de cores vivas, distribuir tablets ou implementar "projetos piloto". É preciso coragem política, visão educativa e escuta ativa àqueles que vivem a escola por dentro: professores, alunos, pais.

Algumas mudanças urgentes:

  1. Reformular os currículos: focar em competências essenciais — pensamento crítico, empatia, ética, resolução de problemas complexos, tecnologia, sustentabilidade, cidadania ativa.
  2. Valorizar os professores: salários justos, formação contínua real, tempo para planear e inovar, liberdade pedagógica.
  3. Autonomia e flexibilidade curricular: cada escola deve ter liberdade para adaptar conteúdos à realidade local e ao perfil dos seus alunos.
  4. Ensino transdisciplinar e por projetos: integrar saberes em torno de desafios do mundo real.
  5. Educação emocional e mental: ensinar a lidar com a ansiedade, frustração, empatia, cooperação.
  6. Integração das artes, da ciência e da tecnologia: sem compartimentos estanques.
  7. Educação para a liberdade criadora e cidadania ativa, em vez da passividade repetitiva.

🧭 Uma Escolha de Civilização

Se não mudarmos o paradigma, estaremos a construir uma geração inteira de jovens com diplomas nas mãos, mas vazios por dentro. Cidadãos desajustados, consumidores ansiosos, almas perdidas num mundo acelerado.

Educar é escolher o futuro. E Portugal tem andado a escolhê-lo mal.

Chegou a hora de derrubar os muros mentais da escola. De abrir janelas ao mundo. De cultivar a inteligência livre, a curiosidade indomável, o pensamento rebelde — esse que constrói pontes onde o sistema apenas vê muros.

A educação não pode continuar a ser o manicómio da criatividade e o cemitério da esperança.


📢 Francisco Gonçalves

Programador, cidadão inconformado e cronista do caos
www.fragmentoscaos.eu

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