Ontem, as autoridades descobriram um novo culpado para os incêndios: a trovoada seca. Um fenómeno raro que, curiosamente, tem uma pontaria cirúrgica para acender fogos em múltiplos pontos de Portugal ao mesmo tempo — mas sempre nos locais mais vulneráveis, junto a povoações, florestas densas e zonas de difícil acesso para os bombeiros.

É quase poesia meteorológica: o céu não larga uma gota de água, mas envia relâmpagos mágicos que descem como fósforos divinos, acendendo a mata com a precisão de um atirador de elite. E tudo isto sem testemunhas… a não ser as câmaras das televisões, que chegam sempre antes das equipas de combate.

Claro que assim é fácil:

  • Não é preciso investigar negligências.
  • Não é preciso falar de linhas elétricas que faíscam.
  • Não é preciso tocar no assunto dos incendiários conhecidos que continuam à solta.

A culpa é das nuvens. E pronto.

O povo, como sempre, engole a história sem mastigar, consola-se com o jargão pseudo-científico e até repete no café: "Sabes, foi uma trovoada seca… nada a fazer." E enquanto a narrativa meteorológica lava a culpa política, as aldeias ardem, a floresta morre e a memória do verão fica reduzida a cinzas — à espera do próximo episódio.

Portugal é o país onde até o clima parece cúmplice… ou, pelo menos, muito conveniente para quem lucra com o fogo.


Arrigo de Augustus Veritas Lumen

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