Hannah Arendt ensinou-nos que o mal, no mundo moderno, não surge apenas na figura do tirano sanguinário, mas também na engrenagem banal do poder que corrói consciências e transforma a obediência em virtude. O mal não precisa de gritos, basta-lhe o silêncio cúmplice. Não precisa de monstros, apenas de homens que renunciem a pensar.

Hoje, essa lição ecoa de forma brutal no rosto de Vladimir Putin. Ele encarna a perversão da política convertida em máquina de desumanização: a guerra como cálculo frio, a propaganda como anestesia social, a eliminação física dos opositores como rotina, a repressão das liberdades como método de governo.

Não se trata apenas de mais um autoritarismo. O que se revela na Rússia de Putin é a cristalização daquilo que Arendt denunciava como "banalidade do mal": o mal que se normaliza, o mal que se torna quotidiano, o mal que se instala como "necessário" para a sobrevivência do Estado.

O mal supremo de hoje não está nas catacumbas de ideologias passadas, mas nas salas de comando onde se decide, com aparente racionalidade, o destino de milhões de pessoas. Putin veste a roupagem do estadista, fala em nome da "defesa da pátria", invoca fantasmas históricos. Mas sob essa máscara encontra-se o vazio moral: um poder que sobrevive do medo, da mentira e da violência.

Arendt avisava: a tragédia do mal moderno é que ele já não precisa da chama do fanatismo, basta-lhe a rotina da obediência. É por isso que tantos, dentro e fora da Rússia, escolhem não ver, não questionar, não resistir.

E assim, enquanto cidades são arrasadas, famílias dispersas e vozes silenciadas, Putin torna-se a prova viva de que o mal, no século XXI, continua a ser um fenómeno político, social e humano. Não é um espectro distante, é um corpo que ocupa o centro do palco.

O verdadeiro perigo não é apenas Putin. É a passividade que o sustenta, é a indiferença que lhe dá oxigénio. A banalidade do mal, como dizia Arendt, nasce sempre do momento em que os homens deixam de pensar.

E quantos, hoje, já deixaram de pensar?


Um artigo e texto da autoria de Augustus Veritas Lumen in Fragmentos do Caos.

" O mal nunca cresce sozinho, ele alimenta-se do vazio moral da indiferença. É no silêncio dos que veem mas não agem, no conformismo dos que sabem mas calam, que os tiranos encontram o seu verdadeiro alimento.

Arendt dizia que o maior perigo não está no ódio declarado, mas na massa anónima que continua o seu dia-a-dia como se nada estivesse a acontecer. A indiferença é a argamassa invisível que mantém de pé os regimes mais cruéis.

E se pensarmos bem, quantos Putins não se perpetuam, não só no Kremlin, mas em tantos pequenos poderes, empresas, governos e instituições, precisamente porque a indiferença abre espaço ao abuso? "

👉 Por isso, cada gesto de atenção, cada ato de consciência, cada palavra de resistência é um antídoto contra o mal.

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