Na praça da Europa, entre palácios dourados e discursos inflamados, lá está ele:
o pequeno Portugal, de chapéu na mão e calças esfarrapadas,
a pedir uma moedinha para apagar o fogo que lhe devora a casa.

Vem a Presidente da Comissão, sorridente e maternal,
prometer solidariedade — como quem lança umas moedas de cobre
ao mendigo da esquina que já todos conhecem.
"Coragem, Portugal, nós ajudamos-te a levantar!"
E o pobrezito agradece, bate palmas e chora de emoção,
como se a esmola fosse milagre.

Mas o que é que acontece depois?
— As moedas caem nos cofres dos mesmos de sempre:
consultoras de luxo, projetos de PowerPoint,
planos estratégicos que ninguém lê,
e relatórios que ardem mais depressa que os pinhais de Pedrógão.

Enquanto isso, o povo continua no pó da cinza,
os bombeiros continuam voluntários mal pagos,
os eucaliptos crescem de novo,
e as chamas preparam o próximo verão de tragédia.

Portugal habituou-se ao papel de mendigo da União,
aquele aluno obediente que não faz barulho
e que, quando arde, recebe uma esmola com sorrisos de plástico.
E os governantes, sempre gratos, batem no peito:
"É a força da Europa que nos salva!"

Mas quem salva o país de si próprio?
De uma floresta sem gestão,
de autarcas que fecham os olhos,
de governos que preferem a fotografia da esmola
à dignidade da prevenção?

Assim seguimos:
um país que foi império,
agora transformado em pedinte de esquina,
vivendo de caridade europeia,
com um prato de cinzas sempre pronto a ser reabastecido.


Artigo de Augustus Veritas Lumen in Fragmentos de Caos.

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