O prefácio -

O contribuinte pobre é tratado a pontapé e com ameaças torpes, dignas de um cobrador de impostos da idade média. Isto passa-se em Portugal no limiar de meados do século xxi. Salazar não fez melhor que isto, este fisco apenas aprendeu e refinou a pulhice.

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O fisco medieval

Há países onde o Fisco é temido.
Há outros onde é respeitado.
E depois há Portugal, onde o Fisco é… um mecenas da banca.

A última prova de amor foi generosa: 1,2 mil milhões de euros de ajuda extra para a Caixa Geral de Depósitos e o Novo Banco.
Nada de novo, apenas a confirmação de que, cá no burgo, os cofres públicos funcionam como almofada de penas para banqueiros sonharem descansados.

Os números da devoção:

• 93% das benesses foram para estas duas instituições, já habituadas ao colo do Estado.
• 4% foi para bancos… em liquidação — porque até os mortos no sistema financeiro têm direito a missa paga.
• O cidadão comum? Recebe cartas do Fisco a ameaçar penhorar-lhe a conta por 50 euros de IVA.

Amor eterno e incondicional

Este mimo fiscal nasceu na era da troika para "ajudar bancos em dificuldades". Traduzindo: o contribuinte, já espremido até ao tutano, foi promovido a padrinho de batismo das más decisões de gestores e administradores que, curiosamente, nunca estão em dificuldades quando chega a hora dos bónus.

No país do fado e do futebol, inventámos também o fado bancário:

• O banco dá prejuízo? O contribuinte paga.
• O banco dá lucro? Os acionistas brindam com champanhe.
• O gestor falha? Recebe uma indemnização choruda para descansar no estrangeiro.

Conclusão

Portugal é, de facto, um país único: o único onde o Fisco tem mais compaixão por bancos falidos do que por famílias sobre-endividadas. E onde o contribuinte, esse servo fiel, continua a cumprir a sua função — manter de pé um sistema que só existe para o sugar até ao último cêntimo.

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Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

"Em Portugal, o Fisco não é o lobo mau — é a ama seca da banca: embala, alimenta e garante que, mesmo falido, o banco nunca acorda com frio."

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