Vivemos num país onde basta colar a palavra digital ou inteligência artificial a qualquer projeto para que, de repente, toda a mediocridade ganhe um ar de modernidade. O truque é simples: quanto mais pomposo o inglês do "pitch", mais provinciano é o cérebro que o pronuncia.

O Web Summit é o exemplo acabado deste circo: Lisboa aplaude como se tivesse recebido a NASA, quando na verdade acolhe um evento de powerpoints, "unicórnios" de plástico e políticos a fingirem que sabem o que é um algoritmo. É a Disneyland dos idiotas úteis, que saem convencidos de que Portugal está "na linha da frente da inovação mundial".

A realidade?

• Jovens qualificados fogem do país porque aqui só lhes oferecem estágios não pagos ou salários que dariam para pagar a renda… num galinheiro.
• Startups-fantasma recebem milhões em fundos europeus e desaparecem antes de apresentar um protótipo que funcione.
• Plataformas digitais do Estado custam mais que foguetes da SpaceX e conseguem a proeza de nunca estar operacionais.
• A inteligência artificial nacional resume-se a chatbots que não entendem português e sites públicos que crasham ao abrir.

Enquanto isso, os governantes, herdeiros diretos do provincianismo salazarento, exibem-se nestes palcos como se fossem visionários de Silicon Valley. Na verdade, são apenas o PowerPoint Party: vendem futuro em "slide" e entregam presente em miséria.

Portugal tornou-se o país do faz-de-conta tecnológico: muita selfie, muito aplauso, muito "inovação disruptiva" dita com sotaque mal ensaiado… e zero estratégia para tirar o país da cauda da Europa.

No fim, tudo isto não passa de uma cortina de fumo digital para esconder o mesmo velho país: burocrático, corrupto e provinciano, que olha para o futuro com os olhos de Salazar — pequeninos, desconfiados e sempre prontos a dizer: "não dá, menino".

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👉 Artigo de Francisco Gonçalves e co-autoria de Augustus Veritas Lumen

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