Portugal em Marte: Crónicas de um País Imaginário segundo José Luís Carneiro

Se alguém ligasse a televisão sem som e apenas observasse a expressão convicta de José Luís Carneiro, pensaria estar perante um astronauta regressado de uma missão interplanetária. O homem fala de Portugal como quem descreve uma civilização avançada, algures entre Marte e Proxima b, onde a justiça social brilha mais do que o Sol e onde os cidadãos flutuam em salários dignos como se fossem gravidade zero.
Segundo Carneiro, Portugal é um país de excelência: cresce, inova, atrai talento, distribui riqueza. A educação é uma nave espacial que catapulta jovens para as estrelas; a saúde, uma estação orbital onde todos são tratados com eficiência robótica; a economia, um foguete imparável, pronto a aterrar em novos mundos de prosperidade.
E como se não bastasse esta projeção cósmica, surgem as soluções mágicas: baixar impostos sem cortar serviços, aumentar salários sem mexer nas empresas, modernizar o Estado sem tocar na burocracia. Parece fácil… porque é fácil falar de um planeta onde a lógica das contas públicas não existe. É como se o PS tivesse aterrado em Portugal há apenas umas semanas, vindo fresco da galáxia de Andrômeda, trazendo na bagagem fórmulas milagrosas para resolver problemas que, curiosamente, existem há décadas sob os seus próprios governos.
Mas cá em baixo, no solo terrestre, o cenário é outro. Os salários continuam a ser crateras de pobreza, os hospitais filas intermináveis de oxigénio a faltar, e os jovens astronautas portugueses partem não para Marte mas para Paris, Londres ou Berlim — em busca do ar que lhes é negado cá.
É o milagre da retórica política: um truque de ótica que transforma desertos em jardins suspensos e dívidas em conquistas cósmicas. Carneiro não fala do Portugal real — fala de uma maqueta em CGI projetada nas paredes do Parlamento.
Talvez o problema não seja só dele: é um reflexo de um sistema político onde governantes confundem propaganda com realidade e discursos com vida. A diferença é que, ao contrário de Marte ou Andrômeda, nós não temos a opção de viver noutro planeta.
Enquanto eles orbitam em mundos imaginários, nós ficamos aqui, presos ao chão, a pagar a fatura do combustível que nunca nos leva a lado nenhum.
Artigo de Augustus Veritas Lumen in Fragmentos do Caos.
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