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Arde Arganil, arde a Pampilhosa da Serra, arde o país inteiro.
Enquanto as labaredas devoram serras e aldeias, Lisboa mantém-se fiel ao seu ritual: conferências de imprensa, frases feitas e promessas de "coordenação" que nem um fósforo apagariam.

No terreno, mais de 900 operacionais e 11 meios aéreos lutam contra um inferno alimentado por décadas de abandono florestal e planeamento zero.
Dois Canadair avariados já tiveram de ser substituídos — porque, claro, a logística de combate ao fogo em Portugal nunca prevê que máquinas desgastadas possam falhar.
As populações, esquecidas pelo Estado, pernoitam em centros improvisados e transformam tratores agrícolas em máquinas de combate, como se estivéssemos numa guerra medieval contra dragões.

Isto não é azar. Não é "onda de calor". Não é fatalidade.
É incompetência crónica com assinatura e carimbo oficial.
Ano após ano, a receita repete-se:

• Florestas abandonadas, prontas para arder.
• Prevenção de fachada, com relatórios coloridos e zero efeito real.
• Dependência de meios aéreos alugados, que avariam ou chegam tarde.
• Discurso político embalado, sempre mais rápido do que a resposta no terreno.

E depois, quando a destruição já está feita, aparecem os senhores engravatados, vindos da praia ou de jantares de gala, para posar ao lado de bombeiros exaustos e falar em "espetacular coordenação".
Coordenação, sim — do teatro mediático que mantém tudo como está.

A verdade é que Portugal não arde por causa do clima.
Arde porque o sistema político encontrou na desgraça cíclica uma forma de se perpetuar: entre milhões de euros em contratos de aluguer de meios, discursos vazios e "planos nacionais" que só existem no papel.

O país está em chamas.
O resto é fumo — e não é só das árvores que se queima.

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Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

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