Portugal é um país peculiar: gosta de se apresentar como moderno, europeu, aberto ao futuro — mas governa-se e organiza-se com as ferramentas do passado, como se tivesse ficado suspenso nos corredores bafientos de um arquivo do Estado Novo.

Chamemos às coisas pelo nome: vivemos sob o síndrome do código dos mortos.

Política: o teatro das marionetas

Os políticos, na sua esmagadora maioria, pensam de forma igual — como se ainda estivessem na sala de jantar dos nossos avós, obedecendo ao chefe do clã partidário. Não há ideias, há catecismos. Não há visões, há obediências cegas. O Parlamento não discute: recita.

Função pública: a máquina de travar o mundo

Os funcionários públicos são formatados para manter o status quo. Burocratas que cumprem rituais administrativos como padres de uma missa antiga, garantindo que nada se move depressa demais. O país poderia avançar, mas há sempre um carimbo, uma assinatura e uma fila para impedir o atrevimento.

Ensino: ainda na escola de Salazar

O sistema de ensino continua enredado em velhas teias, herdeiro de práticas pardacentas que vêm do salazarismo. Ensinar, por cá, é treinar para obedecer, decorar e repetir. Pensar é um risco. Criar é um luxo. A escola continua a produzir cidadãos formatados, não pessoas livres.

Justiça e Fisco: múmias togadas e cobradores fossilizados

A justiça e o fisco são herdeiros diretos de leis que cheiram a naftalina. Muitos dos códigos vêm de tempos em que o mundo ainda era a preto e branco. Juízes e fiscais aplicam-nos como arqueólogos que se recusam a acreditar que o século XXI já começou. Resultado: justiça lenta, fiscalidade absurda, um país atolado no labirinto.

Imprensa: cristalizada e cúmplice

E a imprensa? Presa nos seus próprios vícios, enredada nos poderes que devia escrutinar. Em vez de liberdade, servilismo. Em vez de crítica, compadrio. Portugal tem jornais que, como espelhos partidos, apenas repetem o rosto dos poderes podres.

Uma sociedade vegetal

Tudo isto resulta numa sociedade medieval em plena era digital. Um país avesso à mudança, incapaz de se atualizar, condenado à repetição. Como disse Einstein: "quando todos pensam igual, ninguém está de facto a pensar".

Portugal, neste momento, não pensa. Respira.
Está ligado à máquina, em estado vegetativo.

E a esperança?
Bom… só se for na morte assistida.

Francisco Gonçalves
Fragmentos do Caos


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