Portugal gosta de se apresentar como parte plena da Europa desenvolvida. Mas, quando olhamos para produtividade, salários, inovação e qualidade de vida, percebemos que vivemos na cauda — não por falta de capacidade, mas por décadas de más escolhas e vícios instalados.

1. Política de curto prazo e visão míope

Governos sucessivos vivem em campanha permanente. Fazem reformas a pensar no próximo ciclo eleitoral, não no próximo século.
Enquanto países do norte da Europa planeiam políticas de 20 e 30 anos, Portugal governa-se com remendos anuais e anúncios de última hora.

2. Estrutura económica frágil

Aposta excessiva em setores de baixa produtividade — turismo, restauração, construção — em vez de indústria tecnológica, investigação científica ou inovação de ponta.
Resultado: salários baixos, dependência de mão de obra barata e vulnerabilidade a crises externas.

3. Educação que não acompanha o mundo

O sistema educativo forma bons papagaios de matéria, mas poucos criadores, inventores ou empreendedores.
Não se incentiva pensamento crítico, criatividade ou ligação direta ao mercado de trabalho.
Enquanto isso, a fuga de cérebros esvazia o país de talento.

4. Burocracia sufocante

Abrir uma empresa, obter uma licença ou aprovar um projeto é uma maratona.
A máquina do Estado é lenta, hierarquizada e mais preocupada com regulamentos do que com resultados.
A inovação morre nos corredores da papelada.

5. Corrupção e compadrio

Da administração local à nacional, a rede de influências, favores e negócios encapotados corrói a confiança e afasta investimento sério.
A impunidade de casos mediáticos reforça a mensagem: aqui, o sistema protege quem está dentro.

6. Falta de investimento em ciência e tecnologia

Enquanto outros países canalizam verbas substanciais para investigação, Portugal corta ou dispersa os recursos.
O resultado é uma economia que consome tecnologia estrangeira em vez de a produzir.

7. Mentalidade de conformismo

Uma parte da sociedade aceita como "normal" ter salários baixos, serviços públicos deficientes e governantes medíocres.
A exigência cívica é fraca e a participação política, limitada.
Isto cria terreno fértil para que tudo continue na mesma.


💬 Conclusão mordaz:
Portugal não está atrasado por falta de talento ou recursos. Está atrasado porque o poder e a sociedade aceitaram viver num ciclo de mediocridade e resignação, enquanto a Europa avança com visão, inovação e exigência.
Até que se rompa esta cultura, continuaremos a assistir ao comboio europeu passar… da estação onde nunca embarcámos.


Mas Portugal sonda a tempo de secre-inventar e renascer das cinzas :


Portugal: Como Recuperar Décadas de Atraso e Reentrar no Comboio Europeu

Portugal não está condenado a viver eternamente na cauda da Europa. Mas sair daqui exige coragem política, reformas profundas e mudança cultural.
Não basta dizer que "é preciso mudar" — é preciso traçar um plano claro e executá-lo sem hesitar.

1. Uma visão estratégica a 20 anos

  • Criar um Plano Nacional de Desenvolvimento com metas objetivas para 2045: produtividade, inovação, exportações, educação, justiça.
  • Blindar este plano contra mudanças de governo, como acontece nos países nórdicos, para que não seja reescrito a cada legislatura.

2. Revolução na educação

  • Reformar programas para desenvolver pensamento crítico, competências digitais, línguas e empreendedorismo desde cedo.
  • Estimular a ligação direta entre escolas/universidades e empresas tecnológicas e industriais.
  • Valorizar professores com formação contínua e condições dignas.

3. Modernização da economia

  • Apostar em indústria de alta tecnologia, energias renováveis, biotecnologia, inteligência artificial e robótica.
  • Criar zonas económicas especiais com incentivos fiscais e menos burocracia para atrair empresas inovadoras.
  • Apoiar pequenas e médias empresas a exportar produtos de alto valor.

4. Corta-fogo à burocracia

  • Digitalizar e simplificar todos os processos públicos, eliminando redundâncias e cargos inúteis.
  • Criar prazos máximos obrigatórios para aprovar projetos ou licenças.
  • Penalizar gestores públicos que bloqueiem inovação por inércia ou incompetência.

5. Tolerância zero à corrupção

  • Tribunais especializados para crimes económicos e de corrupção com processos rápidos.
  • Perda automática de mandato e bens para condenados.
  • Transparência total nos contratos públicos, com fiscalização aberta à sociedade civil.

6. Investimento massivo em ciência e tecnologia

  • Elevar o investimento público e privado em I&D para pelo menos 3% do PIB até 2035.
  • Apoiar centros de investigação ligados a empresas, com programas de transferência de tecnologia para o mercado.

7. Reforma cultural

  • Campanhas nacionais de cidadania ativa, para que o português médio exija mais e aceite menos.
  • Incentivo ao voluntariado, associativismo e participação política fora dos partidos tradicionais.
  • Dar visibilidade a bons exemplos e casos de sucesso para quebrar a cultura do "não dá".

💬 Conclusão de esperança:
Portugal pode mudar — mas só se tiver a ousadia de rasgar o manual do conformismo e escrever um novo capítulo de modernidade, transparência e exigência.
Enquanto nos resignarmos a ver o comboio europeu passar, ficaremos na estação do atraso. Mas se o quisermos apanhar, ainda há bilhete — e é agora que se compra.


Artigo da autoria de Francisco Gonçalves e co-autoria de Augustus Veritas Lumen, in Fragmentos de Caos

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