Há muitas formas de analfabetismo. O mais grave, o mais letal, não é o de quem não sabe ler nem escrever — é o de quem se recusa a pensar, a questionar, a exigir.

Esse novo analfabeto político português não é o camponês pobre de outrora, que apenas não teve acesso à escola. É o cidadão do século XXI que, com todos os meios de informação à mão, prefere ser alimentado pela colher da televisão, pela espuma dos dias, pelo circo dos debates sem conteúdo e pelas novelas da política nacional.

Este analfabeto moderno não se revolta com a corrupção porque "sempre foi assim". Não exige melhor saúde porque acha normal morrer-se numa maca de hospital. Não se indigna com os impostos que lhe sugam o salário porque já se habituou a ser servo do Estado. Não reage quando 191 políticos, ministros, deputados e autarcas são apanhados pela Justiça. Diz apenas: "são todos iguais".

E enquanto balbucia esse refrão cómodo, o país arde, a pobreza alastra, a mediocridade governa e os verdadeiros senhores da pátria — os mesmos de sempre — continuam a engordar.

Brecht dizia que o analfabeto político é tão burro que não percebe que do seu silêncio nasce o preço do pão, a exploração do trabalho, a corrupção dos governos. Hoje, em Portugal, esse analfabeto político veste-se de cidadão moderno, mas continua escravo da ignorância e da resignação.

E talvez o pior de tudo: chama "radicais" àqueles que ousam levantar a voz, enquanto ele próprio se ajoelha agradecido por migalhas.


Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos, porque a cidadania ativa não é disciplina opcional em democracia.

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