Ou de como o país trocou o cérebro pela aparencia física.

Era uma vez um engenheiro brilhante, desses que carregam nos ombros a eletricidade de Silicon Valley, mas que, em plena crise de 2008, estava desempregado, à deriva, com um currículo tão robusto quanto inútil perante um sistema que já não sabia distinguir conhecimento de maquilhagem.

Passaram-se meses, entrevistas falhadas, portas fechadas, até que um dia, cansado de ser ignorado, decidiu recorrer àquilo que realmente move o mercado: não a inteligência, não o engenho, não a criatividade — mas a face rejuvenescida, o cabelo pintado, o lifting da esperança.

E eis que, após uns toques cirúrgicos e cosméticos, como quem troca a motherboard mas deixa a mesma BIOS, o homem voltou a uma entrevista. Resultado? Contratado no ato. Não pelo cérebro, mas pelo colagénio. Não pela experiência, mas pelo Botox.

Portugal e o Síndrome do Lifting

Se esta história se passou na América, Portugal não ficou atrás. Desde os finais dos anos 80, o país entregou-se à mesma lógica: não importa a substância, importa a imagem. Políticos com discursos preparados por agências de comunicação, banqueiros com gravatas importadas de Milão e aventais maçons disfarçados de ética pública.

Os currículos? Inventados. As promessas? Maquilhadas. A democracia? Esticada até ao limite das rugas.

Portugal tornou-se um "Life Lift" coletivo:

  • empresas públicas entregues a carreiristas com botox ideológico;
  • partidos políticos que rejuvenescem líderes como se fossem influencers de Instagram;
  • cidadãos convencidos de que aparência é destino, enquanto a substância apodrece no armário.

O País do Creme Anti-Rugas Democrático

A verdadeira sátira é esta: vivemos num país que se comporta como aquele engenheiro. Só que nós, em vez de fazermos um lifting facial, aplicamos maquilhagem orçamental. Retocamos o défice, escondemos as olheiras da dívida pública, pintamos as estatísticas com pó compacto europeu.

E assim seguimos, sorridentes e falsamente jovens, perante os credores, os burocratas de Bruxelas e os investidores de ocasião.

O engenheiro ganhou o emprego. Portugal ganhou o quê? Uma reputação de cosmética política, onde até a vergonha já passou por cirurgia estética.

Epílogo de Sátira

No fundo, a história desse engenheiro é a história de um país inteiro: só depois do lifting é que nos levam a sério. A diferença é que, enquanto ele conseguiu emprego, nós conseguimos apenas mais dívida, mais corrupção e mais verniz a estalar.

Portugal é o paciente da grande cirurgia plástica da democracia: cada vez mais esticado, cada vez menos credível, cada vez mais ridículo.

E um dia, como acontece a todas as peles artificialmente rejuvenescidas, a máscara cai.
E o que se verá por baixo será o retrato cru de um povo que confundiu Botox com futuro.


Artigo de Augustus Veritas in Fragmentos de Caos

🌌 Fragmentos do Caos – Sites Relacionados

Uma constelação de ideias, palavras e caos criativo – ao teu alcance.

A sua avaliação deste artigo é importante para nós. Obrigado.

[avaliacao_5estrelas]
🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
👁️ Esta página foi visitada ... vezes.