O Jornalismo em Portugal: Entre o Eco e o Silêncio

Há quem diga que o jornalismo é o quarto poder. Em Portugal, parece mais vezes um poder de eco — repete as vozes do palco político, amplifica os comunicados, mas raramente desce ao fosso para descobrir o que se esconde por trás da cortina.
Vivemos num país onde muitos jornais estão dependentes de bancos falidos, de publicidade estatal, de grandes grupos económicos. E quem paga a música escolhe a canção. A independência, tão proclamada, desfaz-se como fumo no ar quente de agosto.
O jornalismo diário tornou-se, em grande parte, um mercado de cliques e sensações. Cabeçalhos berrantes, notícias que duram meia hora e depois desaparecem na espuma digital. O que fica? O vazio. Uma sucessão de gritos curtos que não iluminam, apenas distraem.
Mas não é justo falar só das sombras. Ainda existem os resistentes, os que teimam em ser repórteres de verdade. São poucos, mal pagos, quase esquecidos, mas ainda há quem investigue negócios suspeitos, corrupção de gravata, esquemas de bastidores. Ainda há quem escreva com coragem, como quem acende uma vela na escuridão.
O problema é estrutural. A concentração de media em poucos grupos estrangula a pluralidade. A precariedade corrói a profissão. A dependência económica mata a ousadia. E a cidadania, anestesiada, raramente exige mais. Um povo pouco exigente cria um jornalismo pouco exigente.
Portugal precisa de um jornalismo que não tenha medo de perguntar duas vezes, que não tema incomodar o poder, que investigue o que todos preferem esquecer. Precisa de repórteres que não vivam de comunicados, mas de estradas poeirentas, documentos escondidos e vozes abafadas.
Enquanto isso não acontecer, o jornalismo português continuará a viver entre o eco e o silêncio — às vezes alto, quase estridente, mas muitas vezes vazio.
E contudo, acredito que a esperança resiste. Nos projetos independentes, nas redações teimosas, nos jovens jornalistas que ainda carregam no peito o fogo da verdade. Talvez um dia esse lume se transforme em chama, e o jornalismo volte a ser aquilo que deveria ser: uma pedrada no charco, não uma pedra no bolso do poder.
Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos.
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