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Augusto Santos Silva, ex-ministro, ex-presidente da Assembleia da República e fiel escudeiro de José Sócrates — o maior ladrão de Portugal desde 1143 — veio hoje descobrir, com ar grave, que "o poder económico manipula a política".
Foi preciso chegar a 2025, décadas de carreira e várias cadeiras de ministro para esta epifania… ou talvez, apenas, um conveniente momento de amnésia seletiva.

Durante anos, Santos Silva foi parte da engrenagem que serviu e protegeu interesses, ora no Parlamento, ora no Governo, ora nos bastidores, ao lado de quem transformou a corrupção em arte. Não parecia incomodado com a promiscuidade entre política e capital enquanto ela lhe garantia palco, influência e viagens na primeira classe da máquina do Estado.

Agora, já fora do centro do poder, veste-se de profeta arrependido, denunciando o que todos sabem desde que D. Afonso Henriques ainda andava de espada na mão: o poder económico sempre tentou controlar a política.
A diferença é que, no seu tempo, Santos Silva não era vítima — era cúmplice.

Este moralismo de reforma é o detergente preferido de uma classe política que, quando está no poleiro, serve banquetes ao sistema e, quando desce, escreve crónicas contra o colesterol.
O cidadão comum que o ouve, se não conhecer o passado, até pode pensar que se trata de um resistente que lutou contra a corrupção.
Mas quem tem memória, sabe que ele foi apenas mais um maestro na orquestra que tocava para o baile dos donos do dinheiro.

O problema de Santos Silva não é ignorância — é descaramento.
E a sua súbita indignação não nasce do amor pela verdade, mas da segurança de saber que, no Portugal de hoje, as palavras de um político reformado valem mais do que a responsabilidade pelo que fez quando governava.

Se o poder económico manipula a política, não é de agora.
Mas ouvir isso da boca de quem esteve de mãos dadas com o maior esquema de corrupção da nossa história é como ouvir um incendiário lamentar o desaparecimento das florestas.

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Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos.

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