Todos os anos Portugal queima.
Queima o pinhal, a oliveira, a sobreira e o lar.
Queima o futuro das aldeias, os ninhos das aves, o suor dos pastores e os sonhos dos velhos que plantaram à mão aquilo que agora se transforma em cinza.

E todos os anos, os governantes surgem com a mesma ladainha ensaiada:

"A próxima semana será difícil."
"O dispositivo está mobilizado."
"A população deve manter a confiança."

Mas a tragédia repete-se. Como se fosse um ciclo natural — um fado do clima, uma sina do verão.
Só que esta tragédia não é só feita de calor e vento — é feita de má governação, incúria, impunidade… e Justiça cega por conveniência.

68 presos... e quase todos soltos

Este ano já foram detidos 68 incendiários em flagrante delito.
E no entanto, a maioria:

  • É libertada em poucas horas, por ser "inimputável",
  • Ou recebe penas de 1 a 2 anos suspensas, que na prática equivalem a um "não voltes a fazer isso".

Como pode um país arder às mãos de criminosos… e tratá-los como se fossem apenas meninos traquinas com um isqueiro?

O teatro da Justiça

A verdade é esta: Portugal prende para a fotografia e solta para o esquecimento.
Bombeiros lutam contra muralhas de fogo.
Populações perdem tudo em minutos.
E os culpados saem porta fora com um papel na mão e uma palmadinha nas costas do sistema.

A justiça portuguesa, quando se trata de crimes ambientais, é como uma mangueira sem pressão: dá para a pose, mas não apaga nada.

Entre a loucura e o negócio

Dizem-nos que muitos incendiários são "doentes mentais".
Mas a pergunta incómoda é esta:
Quantos foram acompanhados antes de reincidir?
Quantos tinham histórico? Quantos estavam sinalizados? Quantos foram convenientemente ignorados?

E pior ainda: quantos servem interesses ocultos?

  • Incêndios que "limpam" terrenos para construção.
  • Áreas ardidas que depois recebem parques eólicos ou solares em tempo recorde.
  • Zonas protegidas que, depois de queimadas, magicamente se transformam em "área de requalificação".

O fogo nem sempre é loucura. Às vezes, é estratégia de bastidores — e os incendiários são apenas a ponta visível do fósforo.

O Estado ausente e a floresta esquecida

Enquanto isso:

  • Os planos de prevenção dormem no papel.
  • A limpeza das matas é deixada ao acaso e à sorte.
  • O ordenamento florestal é um labirinto sem saída nem vontade.
  • Os meios aéreos são alugados a preço de ouro, mas sem eficácia estratégica.
  • E os bombeiros, verdadeiros heróis, continuam mal pagos, exaustos e politicamente ignorados.

Justiça com medo de julgar

O Código Penal permite penas até 12 anos por incêndio florestal com perigo para pessoas e bens.
Mas raramente se vê penas dessas aplicadas.

Porquê?

  • Porque "coitadinhos, são doentes".
  • Porque "não há perigo comprovado".
  • Porque os juízes aplicam a lei com pinças e coração mole
    …e a floresta com coração queimado.

Um povo que arde e uma justiça que abana a cabeça

Não há combate eficaz aos incêndios sem combate à impunidade.
Sem penas reais.
Sem vigilância ativa.
Sem registo nacional de incendiários reincidentes.
Sem acompanhamento obrigatório para os pirodependentes.
E sem coragem política para dizer: quem brinca com o fogo, tem de arder com as consequências.

Porque quando a Justiça não funciona, o país não só queima — fica condenado a repetir as chamas, ano após ano, governo após governo, tragédia após tragédia.


Artigo de Augustus Veritas in Fragmentos de Caos

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