Todos os anos, Portugal arde. É o ritual do verão: aldeias cercadas, bombeiros exaustos, ministros em mangas arregaçadas. E, como sempre, o diagnóstico oficial vem pronto e embalado:

"Foi uma trovoada seca."
"São fenómenos climáticos extremos."
"É a nova normalidade do aquecimento global."

Ou seja, a culpa é sempre da natureza — nunca da mão humana, nunca da má gestão florestal, nunca dos interesses escondidos.


O Milagre das Trovoadas Secas

Essas trovoadas têm pontaria divina:
– Acertam sempre nos mesmos concelhos, ano após ano.
– Costumam surgir ao fim da tarde, como se respeitassem o horário de expediente.
– E, curiosamente, raramente se lembram de cair sobre Lisboa, Porto ou Cascais.

Quando aparecem 30 ou 50 focos de incêndio em simultâneo, a versão oficial não treme: "são fenómenos naturais".
Fenómenos tão naturais que mais parecem coreografados.


A Realidade Escondida

A PJ e a GNR garantem: não há provas de conspirações económicas. Mas a floresta portuguesa é um palco aberto onde todos têm lugar:
– Madeireiras que beneficiam das limpezas forçadas.
– Negócios de combate aos fogos que vivem da catástrofe.
– Autarcas que choram em público e contam subsídios em privado.
– E incendiários ocasionais, para quem o isqueiro é passatempo.

Nada disto é novidade. O que surpreende é o esforço em convencer o povo de que tudo se resume a meteorologia caprichosa.


O Teatro do Governo

No palco do fogo, a encenação é sempre a mesma:
– Ministro de capacete branco.
– Primeiro-ministro de mangas arregaçadas.
– Promessas de "apurar responsabilidades".

Depois, silêncio. Até ao próximo verão, onde a peça se repete em temporada renovada.


Conclusão Satírica

Se acreditarmos cegamente nas versões oficiais, então devemos aceitar que:
– As chamas têm sentido de humor e regressam sempre ao mesmo palco.
– As nuvens descem às serras com fósforos no bolso.
– Os governantes são apenas vítimas inocentes do azar meteorológico.

Mas a realidade é outra: Portugal continua refém da incompetência, da má gestão florestal e da cortina de fumo institucional que tenta mascarar responsabilidades humanas como fenómenos divinos.

E o povo, resignado, engole a versão — até ao próximo verão.


👉 Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos.

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