Todos os verões, Portugal transforma-se num imenso campo de batalha contra o fogo. Mas, ao contrário do que se esperaria de um país europeu no século XXI, entramos nessa batalha com armas do século passado — por vezes até mais antigas.

Os incêndios devoram casas e terrenos, avançam pelas serras e vales, e os nossos bombeiros, heróis sem uniforme digno, enfrentam as chamas com mangueiras artesanais, viaturas obsoletas e equipamentos improvisados. Enquanto noutros países o combate ao fogo é uma operação de alta tecnologia, por cá é quase sempre uma corrida desesperada para travar as frentes junto às casas — como se fosse preciso esperar que o fogo toque a porta para agir.

O modelo do "último minuto"

A estratégia repete-se ano após ano:

  • Detectar o fogo já em evolução.
  • Correr para o local com meios limitados.
  • Conter as chamas no perímetro das habitações.

O resultado? Milhares de hectares ardidos, ecossistemas destruídos, e populações exaustas de ver todos os anos o mesmo cenário.

O que o mundo já faz — e nós não

  • Satélites e drones monitorizam áreas de risco em tempo real.
  • Sistemas automáticos de deteção enviam alertas antes de a primeira coluna de fumo ser visível a olho nu.
  • Barreiras corta-fogo robotizadas e aeronaves de grande capacidade atacam logo na fase inicial.
  • Modelos de previsão meteorológica e de propagação ajudam a posicionar meios antes do fogo começar.

Em Portugal?
Temos tecnologia — mas dispersa, mal aproveitada, sem integração num plano único e eficaz. O resto é compensado com músculo humano e improviso.

Porque não mudamos?

  • Burocracia que paralisa decisões.
  • Política reativa, que só fala quando o país já arde.
  • Interesses económicos que preferem gastar na reparação do que investir na prevenção.
  • Mentalidade de fatalismo, como se o fogo fosse um castigo inevitável.

O preço do atraso

Enquanto continuarmos a combater o fogo "como há um século", ele continuará a vencer-nos com a força e a velocidade do século XXI. Cada verão perdido sem modernizar é mais território carbonizado, mais famílias desalojadas e mais bombeiros arriscando a vida com meios indignos.


💬 Conclusão mordaz:
O verdadeiro incêndio em Portugal não está só nas florestas — está no sistema que insiste em viver num passado de improviso e remendo, enquanto o futuro arde diante dos nossos olhos.


Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

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