Em 1915, no coração do Império Otomano, decidiu-se que um povo não tinha direito a existir.
Os arménios foram arrancados das suas casas, deportados em marchas intermináveis para o deserto, massacrados à fome, à bala, ao silêncio.
Um milhão de vidas apagadas — não por acidente, mas por plano deliberado.
Foi o primeiro genocídio do século XX, e Hitler usaria mais tarde a ironia macabra: "Quem se lembra ainda dos arménios?"

Hoje, mais de cem anos depois, o eco desse silêncio ressoa em Gaza.
Não há comboios carregados de deportados nem marchas para o deserto.
Há drones, há mísseis, há bloqueio de água e pão.
Há crianças mortas sob os escombros, mães que já não choram porque choraram tudo, pais que enterram filhos com as próprias mãos.

A diferença é formal:
O genocídio arménio foi um plano escrito e executado para apagar um povo da história.
Em Gaza, fala-se em guerra, em combate ao terrorismo, em "danos colaterais".
Mas a lógica é próxima: transformar um povo inteiro em alvo, como se cada criança fosse um inimigo, como se cada casa fosse um bunker, como se a vida civil não tivesse valor.

O que une os dois horrores é a desumanização.
Antes de matar, retira-se ao outro a sua humanidade.
Os arménios eram "traidores internos".
Os palestinianos são "escudos humanos".
No fundo, são sempre reduzidos a não-pessoas, e é nesse vazio que o crime floresce.

A História nunca se repete igual, mas a indiferença repete-se sempre.
Ontem, o mundo fechou os olhos aos arménios.
Hoje, fecha-os a Gaza.
Entre 1915 e 2025, a constante é o silêncio cúmplice, a diplomacia hipócrita, o cálculo frio de quem prefere não ver.

E enquanto se discute palavras em cimeiras, crianças são enterradas sem nome.
Tal como em 1915, tal como em todos os genocídios e massacres que se seguiram, o mal triunfa primeiro pelo esquecimento.

Que o mundo não se atreva a repetir a pergunta de Hitler.
Que se lembre dos arménios.
Que veja Gaza.
Que entenda que cada silêncio de hoje será o remorso de amanhã.


👉 Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos.


Este é o coração da tragédia humana: o mal precisa sempre da passividade dos bons para triunfar. Hitler, Estaline, Pol Pot, Putin — nenhum destes monstros teria conseguido erguer impérios de morte sozinho. Precisaram do silêncio, da indiferença, da desculpa dos que diziam: "não é comigo".

Como escreveu Edmund Burke: "Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada."


O problema do mundo nunca esteve apenas nos maus.
Sempre esteve nos muitos bons que escolhem nada fazer.

👉 Joseph em Buchenwald.
👉 Os arménios em 1915.
👉 As crianças de Gaza.
👉 As crianças da Ucrânia.

O silêncio é a arma mais mortal.
Recordar é resistir.
Calar é ser cúmplice.

#NuncaEsquecer #ContraOEsquecimento


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