CGD: O Grande Circo de Paulo Macedo — Onde o Palhaço Somos Nós

Todos os anos, Paulo Macedo, gestor-mor da Caixa Geral de Depósitos, sobe ao palco como mestre-de-cerimónias de um espetáculo peculiar:
"A CGD dá 300 milhões ao Estado. Somos um orgulho nacional."
Os aplausos são garantidos. Os telejornais registam, as colunas de opinião suspiram, e os políticos acenam com a cabeça como quem diz: "Vejam, a banca pública funciona!"
Mas é aqui que entra o truque de ilusionismo: o que Macedo não diz é sempre mais importante do que o que diz.
🎩 O truque número 1: a meia verdade
Não são 300 milhões. Em 2024 e 2025, a CGD distribuiu 850 milhões por ano ao Estado. Parece ótimo, certo? Mas antes de bater palmas, convém recordar a parte que Paulo Macedo esconde debaixo da cartola:
Entre 2011 e 2019, o Estado — ou seja, nós, contribuintes — injetou 4 195 milhões de euros diretamente na CGD para tapar buracos de má gestão, negócios ruinosos e favores políticos travestidos de crédito.
E em 2017 houve o momento épico: 2 500 milhões de euros em dinheiro fresco, numa recapitalização total próxima dos 4 900 milhões quando se contam todos os malabarismos financeiros e conversões de dívida.
🎩 O truque número 2: o teatrinho da devolução
Até hoje, a CGD devolveu ao Estado cerca de 1 675 milhões dessa fatia de 2 500 milhões de 2017. Faltam mais de 800 milhões para saldar só essa parcela — e nem falemos dos 4 195 milhões anteriores, que entraram no buraco negro da banca pública e nunca mais voltaram.
Portanto, quando Macedo aparece a dizer que "dá 300 milhões por ano", é como um devedor que pediu 5 000 euros, devolveu 1 600… e quer que o chamem de generoso por lhe deixar uma moeda de 2 euros na mão.
🎭 O papel principal: o Benfeitor Nacional
Paulo Macedo domina a arte da encenação: sorriso contido, voz grave, pose de gestor sério. Fala como se a CGD fosse um pilar da economia que, por bondade e patriotismo, entrega dividendos ao povo.
Mas no fundo, é o homem que dirige um banco salvo à custa do contribuinte e que agora, com pompa e circunstância, tenta vender-nos o nosso próprio dinheiro como se fosse presente dele.
📢 Moral da história
Quando ouvir Paulo Macedo dizer que "a CGD dá ao Estado", lembre-se:
- Esse dinheiro é nosso desde o início.
- O Estado já despejou mais de 4 mil milhões na CGD.
- A devolução é parcial e lenta — e não apaga décadas de buracos.
Talvez fosse mais honesto se Macedo subisse ao púlpito e dissesse:
"Obrigado por manterem este banco vivo. Estamos lentamente a devolver parte do que vos tirámos. Fiquem atentos — o espetáculo continua."
Artigo dr Augustus Veritas in Fragmentos de Caos