Todos os dias, quando o relógio marca 20h00, milhões de portugueses participam no mais fiel ritual do país: a Santa Missa das Oito, também conhecida como Telejornal.
Não é preciso ir à igreja — basta sentar-se no sofá, de comando na mão, e deixar-se evangelizar pelos sumos sacerdotes da informação.

Abertura Solene

O pivot surge no altar (perdão, estúdio) com voz grave e olhar compassivo. É o momento da procissão inicial, onde as notícias "de interesse nacional" entram pela casa adentro, cuidadosamente selecionadas para manter a congregação calma e obediente.

Primeira Leitura: O Evangelho do Governo

Aqui, o "santo orador" recita as boas novas: a economia está a crescer (segundo contas criativas), as reformas estão a ser feitas (no papel), e o país está no bom caminho (apesar de todas as crateras à frente).
As más notícias? Essas são pecado mencionar em detalhe, não vá o rebanho perder a fé.

Salmo Responsorial

Segue-se o momento dos "especialistas independentes" — escolhidos a dedo para concordar com a homilia. É o salmo da confirmação: o pivot pergunta, o especialista responde o que se espera. A assembleia, no sofá, murmura um conformado "assim seja".

Segunda Leitura: O Drama Popular

Para manter a atenção, entra em cena a história lacrimosa do dia: uma criança salva por bombeiros heróicos, um cão resgatado do telhado, ou o reencontro de uma avó com o neto emigrado. Entre lágrimas e sorrisos, o povo esquece os milhões perdidos em obras públicas ou contratos de fachada.

A Homilia Final

Chega o fecho moral: uma reportagem "leve" com música suave e imagens bonitas, como sobremesa emocional. É a bênção para que o público vá dormir reconfortado, sem interrogações incómodas.


Conclusão:
A Santa Missa das Oito não informa — consola. Não ilumina — adormece. É a fé diária no status quo, sustentada pelo incenso das palavras mansas e pela homilia que diz: "Está tudo bem, povo de Deus… até amanhã."

Epílogo: O Povo Beato e Santificado

E assim, entre a homilia do pivot e o salmo dos especialistas, o povo português, beato e santificado pela palavra televisiva, segue em paz — convencido de que vive no melhor dos mundos possíveis.
No fim da missa, arruma o terço do comando, dá graças pelas "boas novas" e, resignado, prepara-se para mais um dia de trabalho mal pago, impostos altos e filas intermináveis.

Porque, afinal, um povo assim dócil e crente só pode herdar o Reino dos Céus.
Aqui na Terra, continuará a herdar… dívidas, cortes e governantes que sabem de cor todos os mandamentos da mediocridade.


Um artigo satírico de Augustus Veritas Lumen

"Com este nível de devoção cega e obediência aos "altares mediáticos", parece que muitos já estão prontos para o reino dos céus… ou pelo menos para continuar a viver no purgatório, terreno que lhes impõem.

A diferença é que, no "reino" mediático, os santos são ministros, os milagres são estatísticas inventadas, e o dízimo é pago em impostos que se evaporam.

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