A política internacional não se mede apenas em tratados, comunicados ou sanções. Mede-se, sobretudo, em gestos simbólicos. É por isso que a receção de Vladimir Putin em território americano, com passadeira vermelha e todas as honras de chefe de Estado, não pode ser vista como mera formalidade diplomática. É, na prática, um ato de legitimação.

A legitimação pela encenação

Ao ser recebido por Donald Trump com honras oficiais, Putin deixa de ser apenas o homem acusado de crimes de guerra na Ucrânia, de repressão sangrenta contra opositores internos, de envenenamentos seletivos e assassinatos políticos. Surge agora como estadista respeitado, aplaudido em palcos internacionais.
A passadeira vermelha converte-se em selo de reconhecimento. E esse selo é devastador para a memória das vítimas.

O efeito interno: propaganda pronta a usar

Em Moscovo, as televisões estatais exibem estas imagens como vitória inequívoca: a prova de que o Ocidente, supostamente inimigo, afinal se curva. Para o cidadão russo, sufocado por censura e medo, a fotografia de Putin lado a lado com Trump vale mais que mil mentiras oficiais. É propaganda servida em bandeja de prata.

O silêncio das vítimas

Cada aperto de mão em Washington é uma bofetada para quem chorou em Bucha, Mariupol ou Grozny. Cada honraria concedida é um insulto aos jornalistas assassinados, aos opositores envenenados, aos exilados perseguidos até fora das fronteiras da Rússia. É o triunfo da indiferença diplomática sobre a justiça.

A banalização do mal em versão diplomática

Hannah Arendt alertou-nos para a banalidade do mal — a forma como ele se normaliza quando deixamos de pensar. Ao estender-lhe a passadeira vermelha, Trump não só normaliza, mas também ajuda a perpetuar esse mal, transformando um predador em convidado de honra.


Conclusão:
Não há paz verdadeira construída sobre a legitimação da violência. Não há diplomacia honesta quando se transforma um criminoso em estadista.
A passadeira vermelha de Trump não é apenas tecido estendido no chão. É o tapete que cobre os cadáveres ainda frescos da Ucrânia e da Rússia.


👉 Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos do Caos.

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