Portugal está em chamas.
Ardem as serras, ardem as aldeias, ardem as memórias. E, no entanto, o espetáculo segue como se fosse inevitável. O país vive há quatro semanas em labaredas, e o que se vê nas povoações ameaçadas? Bombeiros? Equipas de socorro? Não. Vê-se carrinhas de reportagem, câmaras de televisão e pivots ansiosos por captar a lágrima da tragédia.

A pergunta é simples: como é possível um país inteiro ser devorado pelas chamas sem resposta eficaz?
A resposta é tão clara quanto obscena: porque o fogo se tornou negócio.


1. Bombeiros exaustos, povo abandonado

As corporações locais, feitas de voluntários e de profissionais mal pagos, não têm meios. Lutam com mangueiras artesanais, camiões velhos, máscaras recicladas.
Enquanto isso, as populações confinadas nas aldeias defendem as casas com baldes, ancinhos e rezas.
É a imagem do país: o povo a lutar pela sobrevivência, o Estado ausente.


2. Proteção Civil: a central de imprensa

Não coordena socorro, coordena soundbites.
As conferências de imprensa são perfeitas, mas a realidade é que o fogo consome quilómetros sem resistência.
Os helicópteros sobrevoam, mas muitas vezes aparecem onde estão as câmaras, não onde o fogo é mais crítico.
É gestão da imagem, não do território.


3. O negócio das cinzas

Cada incêndio é uma mina de ouro para alguns:

  • Empresas de meios aéreos, alugados a peso de ouro.
  • Limpezas "de emergência" contratadas sem concurso.
  • Planos de reflorestação pagos com fundos europeus — que muitas vezes resultam em novos eucaliptais, prontos para arder outra vez.
  • Estudos e relatórios encomendados a consultoras, que servem apenas para encher gavetas.

O fogo é a mais lucrativa economia paralela do país: destrói hoje, paga amanhã, e garante que nada muda para que possa arder outra vez no próximo verão.


4. A encenação política

Depois do pior, surgem as visitas oficiais:

  • O ministro de capacete a posar entre cinzas.
  • O primeiro-ministro a garantir "apoio total às populações".
  • O Presidente a dar abraços televisivos.

São os atores secundários de um teatro repetido, onde o fogo é a cortina e o povo, o figurante que perde tudo.
No fim, tudo se apaga — menos as cinzas.


5. O padrão criminoso

Os fogos não são acaso. São múltiplos, simultâneos, em zonas estratégicas.
O que antes podia ser atribuído a calor e descuido, hoje é demasiado coordenado para ser natural.
Fala-se de piromaníacos soltos, mas o padrão sugere algo maior: uma organização criminosa invisível, um cartel de fósforos a trabalhar com a passividade cúmplice de quem deveria proteger.


Conclusão mordaz

Portugal não arde por fatalidade. Arde porque foi transformado em cinzeiro de interesses, palco de negócio e vitrine de incompetência.
Enquanto o povo perde casas, terras e vidas, a máfia do fogo ganha contratos, poder e silêncio.

E nós ficamos a assistir, como sempre, ao mesmo espetáculo miserável: as aldeias a arder, os governantes a sorrir para as câmaras, e um país inteiro a ser consumido — não só pelas chamas, mas pela mediocridade criminosa de quem lucra com elas.


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