Em Portugal, os projetos informáticos são como romances inacabados: começam com paixão, gastam-se fortunas, e acabam esquecidos numa gaveta — ou num servidor desligado no subsolo de um edifício público.

O Setor Público: O Ouro da Burocracia

Nos ministérios e empresas públicas, a história repete-se:

  • Concurso público para "modernização digital": 20 a 50 milhões de euros.
  • Consórcio vencedor: normalmente o mesmo círculo restrito de grandes consultoras.
  • Prazos: 3 anos no contrato, 7 na prática.
  • Entrega final: um sistema que não comunica com os restantes, ou que é tão complexo e lento que ninguém usa.

Exemplo real:
O Simplex+, que prometia simplificar processos e criar interoperabilidade entre serviços do Estado. Resultado? Vários sistemas incompatíveis, custos a ultrapassar os 300 milhões ao longo da década, e um cidadão que ainda hoje precisa de levar fotocópias em papel para renovar um documento.


O Setor Privado: O PowerPoint como Arma de Gestão

Nas grandes empresas privadas, a receita é semelhante:

  • Direções aprovam "projeto estratégico" de TI de 5 a 15 milhões.
  • Gestores que nunca viram código lideram a iniciativa.
  • Contratam equipas mal preparadas, subcontratam parte para empresas low-cost no estrangeiro, e rezam para que funcione.
  • No final, descobrem que o sistema não cumpre os requisitos básicos.

Exemplo frequente:
ERP's implementados em grupos industriais que, após 10 milhões de investimento, não geram relatórios fiáveis e obrigam a voltar… ao Excel.


Produtividade em Queda Livre

Enquanto o dinheiro some, a produtividade não sobe — pelo contrário:

  • Equipas internas perdem anos a tentar adaptar-se a sistemas mal concebidos.
  • Processos lentos e duplicados continuam a existir "até a nova versão ficar estável" (nunca fica).
  • Talentos técnicos genuínos desmotivam e abandonam o país para trabalhar onde não precisam justificar cada decisão técnica a um gestor que acha que "Java" é só café.

Porque isto continua

Porque não é um erro — é um negócio:

  1. Objetivos vagos → margem para faturar horas infinitas.
  2. Contratos blindados → impossível rescindir sem pagar indemnizações.
  3. Falta de responsabilização → ninguém paga pelos falhanços, nem política nem financeiramente.
  4. O ciclo renova-se → um projeto mal feito justifica um novo projeto para "corrigir as falhas".

Conclusão

Portugal não tem uma estratégia digital. Tem uma estratégia de extrair dinheiro do digital. E enquanto os contribuintes e clientes privados financiarem esta festa, a produtividade continuará a definhar — e o país continuará a liderar apenas num campeonato: o das apresentações bonitas e resultados nulos.


Artigo de Augustus Veritas Lumen, um especialista em detectar projectos informáticos que vão falhar! E com eles falha também sempre Portugal.

"Em Portugal, os servidores não processam dados — processam euros, diretamente para o caixote do lixo. É a única cloud nacional que garante retorno… para quem vende o projeto."

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