O anúncio do chanceler alemão Friedrich Merz de que "o Estado social já não pode ser financiado com o que produzimos" soou como um trovão em céus carregados. Se a Alemanha, a locomotiva da Europa, admite a falência do seu modelo social, o que restará aos países periféricos, frágeis e empobrecidos como Portugal?

A questão não é apenas alemã, é continental.
O modelo do Estado social europeu nasceu no rescaldo da guerra, quando havia crescimento robusto, juventude abundante e dívidas ainda suportáveis. Hoje, tudo isso se inverteu: envelhecimento acelerado, economias estagnadas, dívidas insustentáveis.

Alemanha

A máquina que parecia infalível enfrenta um impasse demográfico. Reformados a crescer, ativos a diminuir, e uma economia que já não acompanha o fardo. O aviso de Merz não é só político, é o reflexo de contas que já não batem certo.

França

Aqui, o Estado social é defendido nas ruas com barricadas e greves. Aumentar a idade da reforma é visto como uma afronta à dignidade conquistada. Mas a matemática é implacável: sem reformas, o sistema implode.

Itália

Com uma dívida pública colossal e uma população envelhecida, vive como um império de mármore a desmoronar. Os jovens partem, os velhos ficam, e o peso do Estado social ameaça afundar tudo.

Espanha

Carrega o estigma do desemprego estrutural. Sem pleno emprego, o financiamento das pensões e da saúde assenta em areia movediça. Acresce o peso da dívida e a pressão social da imigração.

Portugal

Aqui, a tragédia ganha contornos mais crús. Uma economia anémica, salários de miséria, fuga de cérebros, envelhecimento brutal e dependência de fundos externos. O Estado social português é, em grande parte, sustentado por dívida e esmolas europeias. O futuro? Reformas aos 70, saúde cada vez mais privatizada e uma classe média em extinção.


Um continente à deriva

O problema não é de hoje. As democracias europeias perderam a coragem de reformar, adiaram sempre as decisões duras, preferindo o conforto do curto prazo. Agora, as contas apresentam-se sem piedade.

A pergunta é: haverá visão para reinventar o Estado social?
Ou deixaremos que ele morra lentamente, arrastando consigo o pacto de solidariedade que uniu gerações?


🔹 Reflexão final:
O crepúsculo do Estado social europeu não é inevitável, mas exige coragem. Exige líderes que pensem para lá do ciclo eleitoral, que enfrentem interesses instalados e que coloquem a dignidade das pessoas acima da perpetuação da mediocridade.

Se a Alemanha treme, a Europa vacila, Portugal arrisca-se a naufragar primeiro.


Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

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