De Tancos a Kiev: A Arte da Displicência

Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen

Portugal tem um dom raro: transforma falhas graves em carreiras televisivas. Ministros que deixaram escapar armas de Tancos como quem deixa o pão duro aos pombos surgem hoje nos estúdios, engravatados, a comentar com seriedade a guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Há algo de quase surreal neste espetáculo: o mesmo homem que não garantiu a segurança de um paiol militar explica-nos agora a segurança da Europa. O que ontem foi desculpa esfarrapada, hoje é lição de moral; o silêncio de então regressa como prudência em prime time.

As diferenças que contam

• Em Tancos, roubaram-se armas.
• Em Kiev, tenta-se roubar uma nação inteira.
• Em Portugal, perdeu-se credibilidade.
• Na Ucrânia, perdem-se vidas humanas todos os dias.

Na leitura do "azarado do Azeredo", a Europa deveria recuar, negociar, ceder espaço. Como se ceder fosse sinónimo de paz. A História ensina o contrário: cada cedência a um tirano é apenas o prelúdio de novas exigências.

Armas perigosas, ideias fatais

As armas roubadas em Tancos eram perigosas nas mãos erradas. Mas ideias frouxas, difundidas por quem falhou no essencial, podem ser ainda mais fatais: desarmam consciências, normalizam a resignação, abrem portas ao conformismo.

A defesa da Ucrânia não é teimosia — é a defesa da Europa, da democracia e do nosso futuro comum.

Memória e clareza

Portugal precisa de memória; a Europa, de clareza. Não podemos permitir que símbolos de displicência nacional sejam agora arautos de rendição internacional. Se algo aprendemos com Tancos e com Kiev é isto: a displicência custa caro — e, no caso da Ucrânia, o preço é demasiado alto para ser pago com a nossa indiferença.