---

Portugal é um país com uma longa tradição na arte de explicar incêndios de forma… criativa. Não falamos de prevenção ou culpados reais; falamos de narrativas oficiais, fabricadas com o cuidado de um alfaiate e a imaginação de um escritor de contos infantis.

📜 Capítulo 1 — As Garrafas Mágicas

Anos 80 e 90. As televisões e autoridades juravam que as chamas nasciam porque garrafas de vidro espalhadas pela mata funcionavam como lupas. Bastava um raio de sol e voilà, incêndio instantâneo!
Nunca ninguém mostrou uma dessas garrafas no momento do crime, mas a explicação soava "científica" o suficiente para que o povo acenasse com a cabeça.

⚡ Capítulo 2 — A Trovoada Seca Patriótica

Chegamos ao presente. O vilão moderno chama-se trovoada seca, um fenómeno raríssimo, mas que em Portugal tem uma pontaria invejável: acende fogos em múltiplos pontos do mapa, todos ao mesmo tempo, todos em locais de difícil combate. Um milagre meteorológico tão oportuno que faria inveja a qualquer estratega militar.

💨 Capítulo 3 — O Vento Malandro

Noutros anos, a culpa foi do "vento súbito" que, segundo especialistas televisivos, "transporta faíscas" a quilómetros de distância. Curiosamente, este vento só sopra em agosto e só leva as faíscas para onde há pinhais prontos a arder.

🕵️ Capítulo 4 — O Mistério Sem Culpados

Com estas explicações, não há incendiários a prender, não há empresas de limpeza florestal a questionar, não há redes elétricas mal mantidas a multar.
O incêndio é sempre obra da natureza — e a natureza, como se sabe, não se leva a tribunal.

---

💬 Moral da História:
Portugal é o único país onde as chamas parecem ter um departamento de marketing. Todos os anos surge uma nova história "científica" para adormecer consciências e, com sorte, desviar o olhar das verdadeiras mãos que ateiam o fogo.

Enquanto isso, o povo engole, suspira e volta para o sofá.
Porque aqui, a mentira que conforta sempre arde menos do que a verdade que incomoda.

---

Artigo de Augustus Veritas Lumen, autoproclamado especialista em fenómenos da natureza e virtuoso do cálculo probabilístico — com talento suficiente para explicar a uma criança de 8 anos, ou a um adulto distraído, como surgem estes "milagres naturais" que enchem noticiários… e, se for preciso, acrescentar um toque místico para manter o encanto da narrativa oficial.

Aliás, a RTP1, com o seu programa infantil "Para Além do Cérebro", trata de explicar aos portugueses todos estes fenómenos pelo lado do misticismo e dos "poderes da mente" e, acrescento eu, também pelo lado da estupidez natural.

E sobretudo nos tempos que correm, em que toda a gente tem opinião sobre tudo, até há quem ache que a sua opinião — mesmo contrariando factos e leis da física — vale como verdade absoluta. No fundo, vivemos num país onde a ciência é facultativa, mas a ignorância é obrigatória.

A sua avaliação deste artigo é importante para nós. Obrigado.

[avaliacao_5estrelas]