Crónica acídula sobre lucros, ilusões e sermões pagos com o nosso dinheiro

Portugal é, mais uma vez, palco de um número de ilusionismo económico — com a Caixa Geral de Depósitos no papel de mágico, e o povo a bater palmas com as algibeiras vazias.

No editorial do Diário de Notícias, o senhor Nuno Vinha, pago com o suor dos nossos impostos (via subsídios públicos à imprensa amiga), decidiu oferecer-nos uma missa solene em honra dos "lucros recorde" da CGD. Uma homilia bem ensaiada sobre como "devemos agradecer", como "a Caixa já nos devolve em dividendos" o que lhe emprestámos, e como "a crítica à banca é um trauma nacional a precisar de psicanálise".

O tom é condescendente, quase pedagógico — como quem explica a uma criança pobre que deve ficar grata por ter um pão duro, já que o patrão da padaria fez um lucro honesto este ano.


📉 Vamos por partes, como quem disseca um cadáver com luvas de indignação:

  • 5,5 mil milhões de euros dos nossos bolsos em 2017 para recapitalizar a Caixa?
    "Sim, sim, mas foi um bom investimento", diz-nos o colunista. O facto de esse dinheiro não ter sido discutido, escrutinado nem decidido por referendo… isso já não interessa.
  • 850 milhões de euros em dividendos?
    Bravo! Um retorno de 15%… em apenas 8 anos. Quem dera ao Zé Povinho ver esse milagre aplicado ao IRS, ao SNS ou ao preço dos combustíveis. E quem fiscaliza se esses dividendos chegam mesmo ao cidadão ou se evaporam no buraco negro do Estado disfuncional?
  • Lucros altos significam bons serviços?
    — Fantástico argumento! A seguir vamos dizer que os lucros da EDP são sinal de eficiência… e que a GALP nos ama porque nos esmaga com amor no litro da gasolina.

🎭 A falácia do "é nosso, por isso é bom":

A CGD é formalmente pública, mas na prática gere-se como privada — com salários obscenos, negócios opacos e uma memória muito curta sobre escândalos como o de Joe Berardo (empréstimo de 350 milhões aprovado em 57 minutos — o tempo que demora a fazer um café e um favor).


🧠 E agora, um pouco de lucidez brutal:

Não é o lucro que nos revolta. É a hipocrisia institucional que o envolve. É ver banqueiros moralistas a dar sermões em jornais pagos pelo erário. É ver jornalistas a escrever editoriais como quem faz cartazes de propaganda para o regime.


📌 Conclusão:

Portugal não odeia o lucro.
Odeia é ser enganado, manipulado e depois repreendido por estar de olhos abertos.

Se a Caixa é tão exemplar, então que devolva também os juros do favor que o povo lhe fez em 2017 — não só os dividendos. Que abra os seus processos. Que revele os nomes dos devedores protegidos. Que explique porque é que um cidadão comum precisa de 14 papéis para pedir um empréstimo de 10 mil euros, mas um magnata recebe centenas de milhões com um telefonema.


Ah, e parabéns, Paulo Macedo.
Faz sentido que esteja ligeiramente irritado.
É chato quando o povo acorda… e começa a fazer perguntas inconvenientes.


Um artigo da autoria de Francisco Gonçalves e Augustus Veritas, com a sátira e a ironia necessária para suportar tanto sacrista.

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