Há um vírus insidioso que atravessa gerações em Portugal. Não é o da gripe, nem da corrupção — esse já está na fase crónica e sem cura. Falo do vírus do imobilismo mental, uma espécie de entorse ancestral no pensamento, que se transmite de avô para neto como se fosse uma relíquia sagrada. Um país que até quando muda... muda para trás.

Em Portugal, inovar é pecado, duvidar é rebeldia, e pensar fora do modelo aceite por todos? Um crime de lesa-tradição!

E aí se alguém crítica o grupo ou quer discutir o assunto! Logo surge a resposta pronta "estás a criticar as nossas ideias?!" ou algo mais profundo " nós não queremos discutir ". O termo "discuss" anglo-saxónico que tem tradução directa no português "discutir", surge na mente dos portugueses, distorcido por muitos séculos de obediência cega e de calar a própria dor.

Aqui, "equipa que ganha não se mexe". Mesmo que essa equipa esteja há quarenta anos a jogar à rabia num pelado da mediocridade. Mesmo que o marcador diga "Europa 5 – Portugal 0", ainda há sempre alguém que grita:

"Deixem estar! Estão a dar o seu melhor!"

Somos o povo que olha para os países nórdicos com olhos de pasmar, como quem vê um truque de magia:

"Olha lá, ó Zé, eles pagam impostos e têm serviços públicos a funcionar! Mas como é que isso se faz?"

Claro que não vamos tentar perceber. Muito menos aplicar.
Isso dá trabalho. E pior: dá discussão. E nós, como bons filhos do salazarismo emocional, preferimos não levantar ondas.

A Santíssima Trindade do Conformismo Lusitano

  1. "Equipa que ganha não se mexe" — mesmo que já tenha caído para a distrital moral.
  2. "No tempo dos avós é que era" — frase dita por gente que nunca lavou roupa no tanque com água gelada em janeiro.
  3. "Errar é fracassar" — e por isso, ninguém tenta nada novo, porque se correr mal, lá vem o dedo apontado, o riso maldoso, o "bem te avisei".

Resultado? Temos um povo que aprende a obedecer antes de aprender a pensar. Um país onde o verbo "arriscar" foi substituído por "não te metas nisso". Onde o sucesso é invejado, a diferença é castigada, e o talento... exila-se.


O Espírito de Rebanho: Marca Registrada Nacional

Pensar dentro do grupo. Seguir o que os outros dizem. Não questionar.
É o rebanhismo cultural a funcionar, com selo português. Se alguém ousa discordar, propor, mudar — leva logo rótulo:

  • "Ai, este pensa que é esperto."
  • "Anda armado em estrangeirado."
  • "Está a complicar o que sempre se fez assim."

A frase favorita do português médio é:
"Sempre se fez assim."
É o hino nacional do imobilismo, o mantra dos medíocres e a oração dos dirigentes públicos.


Meritocracia? Só na Banca de Bacalhau

Aqui, quem falha é punido, e quem não arrisca é promovido.
A cultura do erro é zero.
Experimentar é um risco que ninguém quer correr — porque pode dar bronca, e depois o chefe grita, e o chefe do chefe manda recado, e o ministro faz de conta que não sabia.

E assim se vai cultivando uma elite feita de obedientes, bajuladores e campeões do "powerpoint". Gente que nunca inventou nada, mas que sabe fingir muito bem que está a trabalhar.


O Resultado? Um País de Manhãs Cinzentas

Portugal está encalhado nas suas próprias certezas. Vive num presente cansado, sonha com um passado idealizado e teme qualquer futuro que cheire a mudança.

É como um velho ranhoso, sentado à janela, a criticar os miúdos que passam de trotinete:

"No meu tempo é que era...!"

Sim, no teu tempo era miséria, censura e água da fonte.

Hoje, temos tecnologia, ciência, criatividade — mas falta-nos coragem.
Coragem para cortar com o passado, para mandar as vacas sagradas da tradição para o talho, e para dizer alto e bom som:

"Chega de ser o país do quase. Vamos ser o país do agora!"


Mas... será que conseguimos?

Difícil. Muito difícil. Porque para isso era preciso educar para o pensamento crítico. Formar para o risco. Celebrar quem erra, quem aprende, quem ousa.

E isso, meu caro leitor, não está no ADN do sistema. Está na lista negra dos perigos a evitar.

Porque se os portugueses começassem a pensar, a questionar, a agir…
…muita gente no topo cairia com estrondo.

E talvez seja esse o verdadeiro medo de quem nos quer pequeninos, obedientes, e conformados:
O medo de um povo desperto.


Artigo da autoria de Francisco Gonçalves, um cidadão que não desiste de acordar este povo, e de ver formar uma cidadania desperta e pronta a mudar Portugal.

Democracia Direta – Do palco ao Povo

Mundo aberto, Código Aberto


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