🇵🇹 Futebol, Fado e Fanfarra: A República das Estátuas e dos Aplausos Vazios

Por Francisco Gonçalves – Fragmentos do Caos
Agosto de 2025
Há 50 anos, Portugal acreditou que entrava numa era de liberdade, cidadania e progresso. Mas o que nasceu não foi uma república da cultura nem da ciência — nasceu a República do Aplauso Fácil.
Em Portugal, o único passaporte para o Panteão Nacional, para as honras de Estado e para os aplausos em uníssono… é saber dar pontapés numa bola.
⚽ Quando a Bola Vale Mais que a Bússola
A seleção nacional ganha um torneio?
Lá está o Presidente da República, entre abraços e selfies.
O Primeiro-Ministro, num delírio patriótico, recebe-os no Palácio com honras de heróis da pátria.
As televisões entram em transe.
E a nação, entontecida, bate palmas e canta hinos como se tivéssemos descoberto um novo mundo.
Mas quando morre um pensador, um cientista, um ativista incómodo, um professor que dedicou a vida à educação pública…
Nem um minuto de silêncio. Nem um rodapé nas notícias. Nem uma flor oficial.
⚰️ E Quando Morre um Jogador?
Aí sim.
As televisões param.
O funeral é transmitido em direto, com planos dramáticos e comentários emocionados.
Há estátuas em rotundas.
Aeroportos renomeados.
Escolas que trocam o nome de filósofos por nomes de pontas-de-lança.
E se o jogador em causa tiver marcado um golo importante em 1996, então preparem-se: o Panteão Nacional abre as portas.
Sim, o mesmo Panteão onde repousam os maiores vultos da nossa cultura, como Almeida Garrett, Sophia de Mello Breyner ou Aquilino Ribeiro.
Agora, lado a lado, repousam também os heróis da bola — porque neste país, um golo vale mais que um legado.
🎤 E o Fado? Ah, o Fado...
Se canta tristezas em dó menor, então é símbolo nacional.
Os fadistas são elevados à condição de embaixadores da alma lusa — porque, diz-se, "representam o povo".
Mas o povo não se representa com lágrimas e saudosismo.
Representa-se com ação, com pensamento, com coragem.
🧠 E os Cientistas, os Professores, os Cidadãos?
Silêncio.
Não há câmaras para quem criou uma vacina.
Não há estátua para quem lutou pela democracia com integridade.
Não há minutos de antena para quem denuncia a corrupção.
Não há palmas para quem ensina, todos os dias, entre greves, burocracias e baixos salários.
Portugal transformou-se numa terra onde o valor é medido em audiências, não em mérito.
Onde a fama vale mais que a verdade.
Onde os aplausos substituíram o pensamento.
🕳️ Um País de Mérito Enterrado
Este culto da celebridade banal é sintoma de uma doença civilizacional.
A doença da mediocridade institucionalizada.
Portugal é hoje uma democracia de fachada, onde o povo está entretido com futebol, enquanto os que mandam saqueiam, vendem, nomeiam amigos, e escapam ilesos.
Um povo domesticado, que aplaude quem dribla, mas não quem pensa.
🧭 O Futuro?
Se continuarmos a transformar jogadores em deuses e cidadãos em peões,
se continuarmos a ignorar os que constroem e a exaltar os que entretêm,
se continuarmos a viver num reality show de glórias fúteis...
...então o destino está traçado: a irrelevância histórica.
Porque um país que só celebra quem diverte, nunca será guiado por quem o pode transformar.
"Num país onde os seus melhores cidadãos estão enterrados, resta-nos o consolo de saber que, como a batata, o melhor está debaixo da terra."
- Frase de autor desconhecido
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