I. A promessa encantada da parapsicologia

A parapsicologia nasceu no século XX como tentativa de estudar, com métodos científicos, fenómenos tidos como "extra-sensoriais":

  • Telepatia
  • Clarividência
  • Precognição
  • Psicocinese
  • Comunicação com os mortos

Apresentava-se como uma "ponte" entre ciência e espiritualidade. Mas, com o tempo, revelou-se mais uma bengala para crentes desapontados com a religião tradicional, e menos uma ciência no sentido estrito.

Porque, ao contrário do que prometia, não cumpriu nenhum dos critérios essenciais da ciência: replicabilidade, previsibilidade e controlo experimental.


II. O palco dos médiuns: quando a fé se transforma em espetáculo

Os médiuns — antigos ou modernos — são atores de um teatro emocional, onde o guião é sempre o mesmo:

  • Um auditório cheio de dor e esperança
  • Uma "energia" que se manifesta misteriosamente
  • Uma frase vaga como "está aqui alguém com o nome João…"
  • E depois… aplauso, lágrima, dinheiro.

O médium não lê mentes — lê expressões faciais, reações subtis, sinais não verbais.
Utiliza técnicas de "cold reading" (leitura fria), as mesmas que mágicos e ilusionistas usam em espetáculos — com a diferença de que o mágico revela o truque e o médium lucra com a fé.


III. Os "fenómenos" que nunca passaram no laboratório

Apesar de décadas de tentativas e de financiamentos, nenhum fenómeno parapsicológico foi replicado em ambiente científico controlado.

  • Os testes de telepatia falham quando eliminados os enviesamentos.
  • As experiências com cartas Zener (as famosas figuras geométricas) revelaram ser apenas probabilidades disfarçadas de milagres.
  • Nenhuma premonição foi confirmada fora do acaso estatístico.

A parapsicologia quer ser ciência, mas recusa os métodos da ciência.
Quer validação, mas não quer verificação.


IV. O problema não está nas pessoas — está nos exploradores da fé

A maioria dos que procuram médiuns e experiências paranormais não são tolos — são pessoas em dor, em luto, em busca de sentido.
O problema são os que, cientes da ilusão, continuam a explorá-la por dinheiro, fama ou poder emocional.

Os médiuns que atuam como "ponte com os mortos" em programas de televisão estão a fazer entretenimento emocional.
Mas a dor do público é real.


V. E porque ainda acreditamos?

A resposta está no cérebro humano — e não no mundo dos espíritos.

  • Somos programados para ver padrões, mesmo onde não há.
  • Temos tendência para atribuir causa a coincidências.
  • Procuramos conforto na ilusão de controlo e continuidade.

A ideia de que "alguém nos guia do além" ou "há uma razão escondida para tudo" é reconfortante — mas não é verdadeira.


VI. Ciência e mistério: não precisamos do misticismo

Não precisamos de fantasmas para explicar o inexplicado.
A ciência continua a explorar com humildade as fronteiras do cérebro e da consciência — mas fá-lo com responsabilidade, com dados, com revisão por pares.

A neurociência já nos mostra que:

  • As experiências de quase-morte têm explicações fisiológicas.
  • Os sentimentos de "presença" vêm de falhas temporárias na integração sensorial.
  • O "eu" é uma simulação mantida pelo cérebro — não uma entidade fora dele.

Epílogo: Apaguemos as luzes do palco

A mente humana é fascinante.
A consciência, ainda hoje, é um dos maiores enigmas da ciência.

Mas isso não nos dá o direito de encher o vazio com charlatanices reconfortantes.

Que o mistério nos inspire — mas não nos cegue.
Que a dúvida seja motor — e não fraqueza.
E que a verdade, mesmo difícil, seja mais digna que a ilusão confortável.


Um artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

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