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Quando os milhões do SNS 24 acendem promessas — mas apagam o acesso.

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💡 A promessa digital: um SNS à distância de um toque

Na passada semana, o Ministério da Saúde anunciou em tom triunfal o lançamento da nova aplicação e do novo portal do SNS 24, celebrando os oito anos da plataforma. O evento decorreu com pompa no Parque das Nações, com ministros, responsáveis da SPMS, slides brilhantes e um discurso centrado na "modernização do Estado" e na "facilitação do acesso à saúde digital".

Segundo dados oficiais, o investimento ultrapassou os 1,5 milhões de euros, canalizados através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A nova versão da app prometia mundos e fundos: agendamento de exames, acesso a receitas, teleconsultas, registo vacinal e histórico clínico — tudo num clique.

Mas a realidade, como sempre em Portugal, ficou a dever muito ao power point.

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🚫 A realidade: pane geral, utentes excluídos

Logo nas primeiras horas após o lançamento, surgiram relatos massivos de falhas:

• A aplicação crashava ao abrir ou ao tentar autenticar com Chave Móvel Digital.
• Mensagens como "Serviço temporariamente indisponível" tornaram-se o novo jargão da saúde digital.
• Muitos utentes ficaram sem acesso a dados clínicos nem agendamento de serviços.

E tudo isto numa plataforma que deveria, por definição, ser um pilar de acessibilidade e inclusão.

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🕵️‍♂️ Onde está o erro?

A falha não é apenas técnica. É estrutural, política e ética.

1. Infraestrutura subdimensionada.
   Os serviços do Estado continuam a usar arquiteturas obsoletas, incapazes de lidar com tráfego real. A nuvem é mais marketing do que solução.
2. Execução sem testes reais.
   Lançamentos apressados, sem testes de carga, de usabilidade ou de redundância, revelam uma obsessão por calendário político em detrimento da funcionalidade.
3. Ausência de responsabilização.
   Quem supervisionou o projeto? Quem garantiu a qualidade? Quem validou a entrega da app com tantas falhas?
   Até agora, ninguém deu a cara, ninguém se demitiu.

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💶 O custo escondido: milhões para os mesmos

Enquanto os utentes não conseguem aceder ao SNS, há quem tenha acedido — com sucesso — ao bolo do PRR. Porque, como já vimos noutras áreas do Estado:

• A modernização digital tornou-se um negócio chorudo para fornecedores amigos.
• Muitos projetos "inovadores" são adjudicados a empresas com vínculos opacos ou ligações políticas.
• E a falta de escrutínio técnico permite entregar lixo embrulhado em design minimalista e promessas de inteligência artificial.

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🤔 Mas será mesmo só 1,5 milhões?

Há rumores e análises que apontam para valores bastante superiores, incluindo custos indiretos com infraestruturas, subcontratações e manutenção futura.
Numa estimativa ampla, o verdadeiro custo pode facilmente ultrapassar os 10 milhões de euros ao longo de 3 anos.

E o mais irónico?
Portugal, país das filas nos centros de saúde, gasta milhões em apps que nem sequer deixam marcar uma consulta.

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📱 Uma metáfora do país

Esta app falhada é o espelho perfeito do Estado português:

• Moderniza-se por fora, apodrece por dentro.
• Exibe-se como referência europeia em "serviços públicos digitais",
  mas não consegue garantir o básico: funcionar.

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📢 Conclusão: digital não significa eficaz — sobretudo em Portugal

Os portugueses não querem apps com design escandinavo nem discursos de Silicon Valley.
Querem poder consultar o médico sem erros, marcar uma análise sem falhas e ter os seus dados de saúde acessíveis, seguros e simples.

O investimento no digital não é pecado.
O pecado é usar o digital como capa para contratos opacos, falta de rigor técnico e ausência total de prestação de contas.

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"Gastaram milhões para pôr o SNS no bolso.
Mas o que o utente encontra… é um buraco fundo onde tudo falha.
A verdadeira pandemia, aqui, é a da incompetência institucional."

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Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

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