Robert Charroux e os Extraterrestres de Papel: Quando o Mistério Vende Mais que a Verdade

Nos idos anos 70, quando a televisão ainda se ouvia mais do que se via, e as pessoas liam com sede de infinito, surgiu entre nós um nome que prometia respostas a tudo o que a ciência teimava em manter no domínio da dúvida: Robert Charroux.
Ex-agente dos correios, Charroux reinventou-se como arqueólogo do invisível, explorador do improvável e profeta de uma pré-história cósmica. A sua tese? Que há dezenas de milhares de anos, a Terra foi visitada por seres de outros mundos que ensinaram à humanidade tudo o que temos de "avançado".
As Pirâmides? São Antenas de Plutão.
Segundo Charroux, as grandes civilizações não nasceram do engenho humano, mas sim de descidas celestes. Os egípcios? Alunos aplicados de ETs engenheiros. Os maias? Cartógrafos das estrelas. Os sumérios? Secretários de deuses com propulsão nuclear. E o ser humano moderno? Um sobrevivente amnésico de um legado estelar esquecido, como um USB caído no deserto há 20 mil anos.
Mistério: 1 – Prova: 0
Os livros de Charroux vendiam como pãezinhos quentes. História Desconhecida dos Homens desde Há 100.000 Anos, Os Mistérios do Andes, Os Livros Malditos… todos com títulos que faziam triemer os joelhos de quem procurava mais emoção do que confirmação.
Mas a ciência? Essa ingrata com fatos de tweed e instrumentos de precisão, não encontrou qualquer vestígio de visitantes interplanetários a plantar Stonehenge ou a programar os Incas. O que encontrou foram pegadas humanas, ferramentas rudimentares e o lento, mas grandioso, progresso de uma espécie que aprendeu a fazer fogo, roda e linguagem — sem o auxílio de naves-mãe.
Por que acreditávamos?
Porque Charroux, como outros da sua linhagem (Erich von Däniken, Zacharia Sitchin, etc.), tocava no nervo exposto da humanidade: o desejo de ser mais do que carne e osso, o anseio por uma origem nobre, quase mítica. Era uma forma sofisticada de escapismo — um mito moderno embrulhado em pseudo-ciência, num tempo em que os jornais e a televisão ainda tratavam qualquer especulação com voz grave e música de suspense.
Epílogo com Antena
Hoje, as teses de Charroux vivem nos recantos coloridos da internet, nos documentários sensacionalistas e nas teorias que misturam maçons, ETs, Atlantis e Elon Musk. São boas para entreter, más para educar. Mas continuam a fascinar.
E talvez seja porque, no fundo, é mais fácil acreditar em deuses do espaço do que aceitar que a inteligência humana foi construída com dor, tempo, luta e muito erro.
Charroux morreu em 1978, sem nunca provar nada do que disse. Mas deixou uma lição involuntária: que o cérebro humano, quando se afasta da razão, pode construir templos de papel mais fantásticos do que qualquer pirâmide estelar.
Fim da transmissão. Frequência desligada.
Artigo da autoria de Augustus Veritas