Publicado em 2025-07-04 22:22:29
Há palavras que pesam como pedras.
"Estado falhado" é uma dessas.
Não se usa de ânimo leve, nem se cola à pressa no escudo de um país com quase nove séculos de história. Mas por estes dias, em ruas onde o silêncio substitui a esperança, e nos rostos onde antes morava a dignidade de um povo sonhador, há quem pergunte: "Isto ainda é um país ou apenas uma ilusão com bandeira?"
Um Estado falhado, por definição, é aquele que não consegue cumprir as funções básicas: segurança, justiça, saúde, educação, integridade territorial, e representação legítima do povo. Portugal ainda respira, é certo. Mas não o faz sem aparelhos:
Apesar de tudo, ainda há eleições — mesmo que de participação raquítica.
Ainda há tribunais — mesmo que morosos.
Ainda há liberdade — mesmo que cada vez mais condicionada por algoritmos e narrativas únicas.
Não somos, tecnicamente, um Estado falhado.
Mas somos, indiscutivelmente, um Estado desapontado.
Um país onde as instituições funcionam… mas não servem. Onde o cidadão não confia, não espera, não participa. Onde a desilusão virou rotina e o voto, uma obrigação inútil ou um grito desesperado.
O verdadeiro perigo de um país como o nosso não é a guerra nem a fome.
É o colapso da esperança.
É ver o povo a descolar do Estado. É o "tanto faz" que se instala.
É o absenteísmo político, o cinismo generalizado, o humor amargo nas filas da farmácia, o desprezo silencioso nas repartições, a apatia nos cafés, a fuga nos aeroportos.
Mas enquanto houver voz que denuncia, pena que escreve, mente que pensa e coração que arde, há margem para virar o rumo.
Portugal pode renascer. Já o fez no passado. Mas não será com os mesmos atores, nem com as velhas fórmulas.
Será com gente livre, inconformada, ousada e lúcida.
Com cidadãos que não aceitam ser peões, nem estatística.
Com sonhadores que se recusam a emigrar da alma — mesmo que o corpo tenha de o fazer.
Não.
Portugal ainda não é um Estado falhado.
Mas se continuar a ignorar os sinais,
se persistir em premiar a mediocridade,
se castigar o mérito e adular a esperteza,
então falhará.
E aí… nem Camões conseguirá rimar tamanha tragédia.
Um Artigo de Augustus Veritas
"Portugal ainda não é um Estado falhado… mas é, talvez, um país falhado em cumprir a promessa que fez aos seus filhos.
Um país onde o mérito é punido, o talento emigra, e a esperança se reforma antes dos 30.
Onde o cidadão já não espera nada do Estado — apenas que não o atrapalhe mais.
E onde a palavra 'democracia' ainda ecoa nos manuais escolares,
mas já não ressoa no coração do povo."*