€53 mil milhões.
Esse é o valor estimado que os portugueses — ou melhor, uma minoria muito bem colocada — escondem em paraísos fiscais. Um quinto do nosso PIB. Um quinto da riqueza que deveria circular no país, servir o povo, pagar escolas, hospitais, pensões e transportes — mas que, em vez disso, está a render juros no Luxemburgo, nas Ilhas Virgens, nas Caimão e noutras zonas de sombra da economia global.

Segundo o Observatório Fiscal da União Europeia, esta riqueza oculta levou, só em 2020, a uma perda superior a €500 milhões em receitas de IRC. Metade de milhar de milhão de euros por ano que desaparece — sem bomba, sem rebentamento, sem notícias de abertura. Um buraco orçamental limpo, elegante, sem sangue. Um assalto discreto e legalizado.

O Imposto dos Tolos

Quem paga?
O trabalhador por conta de outrem, claro.
A microempresa do bairro.
O reformado com o recibo de pensão tributado até ao último cêntimo.

A lógica é simples: quem tem pouco, paga muito; quem tem muito, paga fora.

Enquanto isso, as multinacionais "portuguesas" transferem lucros para outras jurisdições e declaram cá o suficiente para parecerem legais. E os nossos políticos? Limitam-se a arquivar escândalos, abafar investigações, ou — mais frequentemente — fazer de conta que não veem.

O Estado Capturado

Esta realidade gera efeitos que vão além da economia.
Gera desigualdade.
Gera desconfiança institucional.
E gera uma classe política e económica que funciona como um clube de privilégios, onde a riqueza e a lei não se tocam.

É o que se chama de captura do Estado — quando as estruturas que deveriam proteger o interesse público são controladas por quem as usa para proteger os seus próprios interesses.

E quem ousa questionar isto? Poucos.
Talvez porque, como dizia a juíza Maria José Morgado, "os políticos entram com uma mão à frente e outra atrás, e saem milionários."

O Custo da Impunidade

Este sistema, perpetuado por décadas, tem custos profundos e duradouros:

  • Menos investimento público, porque falta dinheiro nos cofres.
  • Maior carga fiscal sobre a classe média, que já cambaleia.
  • Desigualdade social crescente, com um fosso que se alarga entre quem tudo tem e quem tudo perde.
  • Apatia cívica, com um povo que se pergunta: "vale a pena lutar?"

Portugal já não é só pobre — é delapidado.

E Agora?

Se metade do esforço que o Estado põe em fiscalizar pequenas falhas dos cidadãos fosse aplicado a combater esta fuga de capitais, talvez o país mudasse.
Mas para isso, seria preciso coragem. E verdade.
Duas coisas raras na política nacional.

Resta-nos a palavra. A denúncia.
O gesto de dizer basta.
De transformar a indignação em consciência.
E a consciência em ação.


Portugal não precisa de mais impostos. Precisa de mais justiça.
E ela não virá dos paraísos — mas das ruas, das ideias, da força dos que não têm medo de chamar o monstro pelo nome.


Artigo da autoria de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos


"Portugal não precisa de mais impostos. Precisa de mais justiça.
Os €53 mil milhões escondidos em offshores são o verdadeiro saque do Estado — feito à luz do dia, com luvas brancas e silêncio cúmplice."


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