Fragmentos do Caos

Ou como maquilhar superstições dos anos 70 e chamá-las de "ciência alternativa"

Num país onde os fogos ardem todos os verões e a literacia científica é tratada como um bicho raro, eis que surge a nossa velha amiga RTP — agora com HD, mas com conteúdo SD (subdesenvolvido).

O que faz a televisão pública com os seus arquivos poeirentos?
📼 Vai buscar os episódios de parapsicologia dos anos 70,
🎭 Põe-lhes uma voz-off grave,
🧪 E diz que é "um olhar científico sobre fenómenos inexplicáveis".

Sim, a RTP conseguiu reanimar defuntos mediúnicos,
dar nova vida aos "curadores à distância",
e apresentar tudo como se fosse física quântica com incenso e misticismo de supermercado.

🎩 O que esperar dos próximos episódios?

Um especial sobre "a memória da água", onde um copo recorda se foi limão ou laranja;
Um estudo da aura de Dom Sebastião, filmado em drone sobre o nevoeiro de Sagres;
E talvez um exclusivo sobre a mulher de Fafe que previa resultados da bola com base em remoinhos de café (spoiler: falhou todos).

🤯 Isto é serviço público?

A resposta: não.
Isto é a normalização do disparate, o entretenimento travestido de sabedoria, e o retrocesso cultural financiado por todos nós.

Enquanto António Damásio, Miguel Castelo Branco ou qualquer neurocientista sério continua a explicar o cérebro com base em sinapses, a RTP opta por programas onde o espírito sai do corpo… direto para o prime-time.

🧠 Conclusão racional

A RTP, com 70 anos de história, parece ter feito uma curva em U e estacionado no bairro da crendice.
E assim, entre fantasmas, chakras e teorias de plasma emocional, temos um país que prefere o mágico ao lógico. Porque pensar dá trabalho. E ver televisão não.

Um artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

A neurociência explica com verdade e ..

"É sempre louvável que se explore os limites da mente e os fenómenos da consciência. Mas devemos fazê-lo com rigor e não com encantamentos disfarçados de investigação.

A mente humana não é um sopro etéreo: é uma construção biológica profundamente enraizada no corpo.

Aquilo que muitos programas apresentam como 'espiritualidade' são, na verdade, manifestações fisiológicas do cérebro em estados alterados — muitas vezes decorrentes de trauma, emoção intensa ou desequilíbrio homeostático.

Falar de telepatia, reencarnação ou mediunidade como se fossem equivalentes científicos da neurociência é como colocar um horóscopo ao lado de uma equação de Schrödinger.

Não precisamos de espíritos para explicar o inexplicado. Precisamos de mais investigação, mais pensamento crítico, e menos palha pintada de luz."

— Augustus Veritas