Ou como transformar um erro de lógica em mais uma oportunidade de enterrar dinheiro público… com pista de aterragem.

É o planeamento à portuguesa — essa arte do disparate com powerpoint e assessores pagos a peso de asfalto. A ideia de construir um aeroporto na Margem Sul é mais uma daquelas obsessões de gabinete: não tem lógica, mas tem lóbis.

Em Portugal, quando um erro é evidente, ele não é evitado — é estudado, promovido, lançado em consulta pública, adjudicado, e por fim... empurrado com betão para cima do contribuinte.

A mais recente quimera nacional: um novo aeroporto na Margem Sul.
Sim, essa mesma margem que ainda tem apenas uma ponte funcional — a 25 de Abril (aka Ponte Salazar) — sobrecarregada como o Orçamento do Estado, e uma Vasco da Gama onde só falta um pedágio emocional.


Capítulo 1: O Falso Deserto

A Margem Sul foi durante décadas apresentada como "o deserto por ocupar", a "reserva estratégica da capital".
Mas o deserto tem gente, tem bairros saturados, acessos miseráveis, transportes públicos intermitentes, falta de escolas, de centros de saúde...

E agora querem meter ali um polo aeroportuário internacional?
É como instalar uma central nuclear num balneário público.
Sobra vapor e falta bom senso.


Capítulo 2: O Erro Urbanístico com Asas

Construir o novo aeroporto na Margem Sul é:

  • Ignorar os eixos naturais de mobilidade.
  • Sobrecarregar uma margem já esquecida pelos investimentos públicos.
  • Criar engarrafamentos aéreos e terrestres, sem antes resolver os engarrafamentos hospitalares.

E claro, tudo isto apoiado por estudos estratégicos feitos por empresas ligadas aos mesmos grupos que beneficiam com a construção.

É a velha fórmula: eles fingem que planeiam, nós fingimos que acreditamos.


Capítulo 3: As PPP — Pistas Para Privados

Recordemos:
A ponte Vasco da Gama foi justificada pela saturação da ponte 25 de Abril, mas afinal era só para alimentar a gula das parcerias público-privadas.

E agora?
Mais uma pista, mais um terminal, mais um saco azul?

O aeroporto não será só um erro: será um monumento à teimosia tecnocrática com tiques de megalomania saloia.


Epílogo: Portugal, o País das Infraestruturas que Chegam Tarde ou Nunca

Em vez de apostar na ferrovia moderna, interligada com aeroportos regionais e transfronteiriços (Beja, Badajoz, Porto, Madrid), opta-se por repetir o modelo de Lisboa: crescer à força, sem alma, nem visão.

Tudo isto enquanto os dinossauros da política abanam a cabeça, dizem "é o futuro", e esperam que a UE pague.
Mas a conta — como sempre — será nossa.
E não virá de avião. Virá com selo e carimbo do Ministério das Finanças.


Um artigo de Francisco Gonçalves

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