José Sócrates, o homem que devia ser símbolo de vergonha nacional, tornou-se um símbolo de resistência burocrática à justiça.
Não por ser inocente — mas por conhecer melhor do que ninguém os corredores da máquina que deveria julgá-lo.

Década e meia depois de denúncias, investigações, buscas, inquéritos e acusações, Sócrates continua cá fora, livre como o ar que ocupa em entrevistas onde se faz de vítima.
E agora, num gesto que mistura arrogância jurídica com estratégia de sobrevivência, pede ao Tribunal de Justiça da União Europeia que suspenda o seu julgamento em Portugal.

Alega erros formais, mudanças no tipo de crime atribuído, e invoca o sagrado direito europeu —
como se o problema fosse gramatical, e não o enriquecimento ilícito, a corrupção passiva, a promiscuidade entre Estado e grandes negócios.


🕳️ O truque é simples: esgotar o tempo da justiça até que ela expire por cansaço

A justiça em Portugal tem força para multar um padeiro por ter pão quente às sete da manhã.
Mas quando se trata de Sócrates — e de outros senhores da lama política — ela transforma-se numa formiga atrapalhada perante um elefante em fato Armani.

Ele conhece os códigos.
Conhece os juízes.
Conhece os tempos, os atalhos, os jogos e os labirintos.

Cada nova manobra — seja no Constitucional, no TEDH, ou agora em Luxemburgo — não é sobre verdade ou inocência.
É apenas sobre adiar o inevitável até que se torne impossível.


🤡 Um país a assistir, impotente

A cada recurso de Sócrates, o país observa o espetáculo com uma mistura de bocejo e náusea.
As pessoas já nem perguntam "quando vai ser julgado?" — perguntam-se "será que algum dia o será?"

Enquanto isso:

  • Um cidadão comum vê a sua conta penhorada por uma dívida de 30 euros.
  • Um desempregado apanha 2 anos de cadeia por roubar bifes do Pingo Doce.
  • E um ex-primeiro-ministro acusado de movimentar milhões de euros em esquemas sorri em conferências e processa jornalistas por "difamação".

🧠 A manipulação da justiça como sistema de defesa

Sócrates não está a ser julgado — está a julgar a justiça.
Transformou o processo num tabuleiro em que ele é o jogador e o árbitro.
Enquanto houver tinta para requerimentos, o julgamento será uma miragem jurídica.

E enquanto isso, a sua imagem pública alterna entre o intelectual perseguido, o filósofo mal compreendido, e o profeta traído pelo sistema.
É de um patetismo quase poético — se não fosse tão insultuoso para quem ainda acredita num país decente.


🔚 Conclusão: A farsa nacional de nome Sócrates

Portugal já não julga José Sócrates.
Portugal tolera-o, acomoda-o, normaliza-o.
E ao fazê-lo, normaliza também a impunidade, a arrogância, e o sistema de justiça desenhado para proteger os que estão sentados à mesa do poder.

Sócrates é mais do que um homem livre —
É a metáfora viva de um país onde o crime de colarinho branco não cumpre pena: cumpre entrevistas.


Francisco Gonçalves
Cidadão de memória ativa e vergonha resistente.


🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
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