🏛️ O Reino da Mediocracia: Como o Estado Português Se Torna Inimigo de Si Mesmo

Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas
1. Burocracia Kafkiana como política de Estado
Em vez de facilitar, o Estado complica.
Processos que podiam ser resolvidos com dois cliques ou dois carimbos tornam-se sagas labirínticas, em que cada papel precisa de outro papel que, por sua vez, depende de um despacho que nunca mais chega.
Esta máquina kafkiana não é um acaso.
É protegida e perpetuada por um exército de "complicómetros humanos" que, em vez de simplificar, desenham reinos administrativos para se manterem essenciais.
2. Do Estado Novo à Estagnação Nova
As estruturas administrativas do Estado continuam, em muitos casos, herdeiras diretas do regime anterior.
Mudaram as fardas, modernizaram os computadores, mas mantiveram a lógica taylorista, hierárquica e rígida, onde o chefe é intocável, e qualquer ideia nova é uma ameaça.
Inovação? Só a que não mexa nas cadeiras.
Eficiência? Só se não implicar perder poder.
Transparência? Só para os outros.
3. O paradoxo tecnológico
Portugal investiu milhares de milhões de euros em plataformas, software, digitalização.
E o resultado?
Mais funcionários públicos do que há 10 ou 20 anos.
Isto não é um paradoxo — é uma fraude funcional:
- As tecnologias existem.
- As plataformas estão criadas.
- Mas o sistema resiste-lhes com unhas e dentes, para que o poder informal, a "cunha" e o pequeno feudo se mantenham.
4. A mediocracia instalada
O Estado é hoje refém de uma cultura de proteção da incompetência, onde o mérito assusta e a reforma incomoda.
Chefias sem visão, dirigentes amarrados à cadeira e técnicos proibidos de pensar.
Portugal criou um Estado que se protege de quem quer melhorá-lo. E quem tenta fazer diferente é visto como perigo público.
5. O custo da inércia
Esta ineficiência tem um preço brutal:
- Processos que demoram meses e geram perda de produtividade.
- Gasto público redundante em duplicações, papeladas e consultores.
- Desmotivação dos melhores quadros, que se perdem no exílio burocrático.
Estima-se que a má organização e a má gestão pública custem milhares de milhões de euros ao país todos os anos.
Dinheiro que poderia ser investido em educação, saúde, inovação.
Mas não. É queimado na fogueira da mediocridade protegida.
6. Conclusão: o país dos arquivos infinitos
Portugal não precisa de mais reformas de papel.
Precisa de ruptura, coragem e desinstalação da máquina parasita que se autoalimenta.
O problema do Estado não são os recursos. É a estrutura que se recusa a mudar. E enquanto essa estrutura for comandada por chefes sem ideias, por técnicos sem autonomia e por processos desenhados para impedir a mudança, continuaremos a ser o país da lentidão cara e da incompetência bem paga.