Publicado em 2025-06-29 18:01:51
Portugal, 2015.
A banca tremia, o povo tossia, o Banif explodia — e no meio da névoa… surge ela:
a Oitante,
não é ilha dos Açores, nem vento dos Descobrimentos,
mas um navio-fantasma fiscal com bandeira de resgate.
Criada em silĂŞncio, mas com muitos zeros,
a embarcação foi batizada com água benta do Fundo de Resolução,
pilotada por tecnocratas com olhar de Excel e coração de PowerPoint.
Missão: recuperar os milhões esvoaçantes, os imóveis esburacados,
e os créditos que nem com GPS se encontravam.
A Oitante não dá crédito — tira-o.
Não promete futuro — recolhe passado malparado.
É o cemitério onde vão os investimentos falhados, os hotéis nunca abertos,
os terrenos que valem mais em promessas que em metros quadrados.
No convés, funcionários sóbrios
fazem contas que dariam tonturas a qualquer mortal:
lucros com vendas que ninguém viu,
dividendos devolvidos ao Estado como esmola em dia de missa.
Com ares de opereta barroca,
lá desfila a Oitante perante o paĂs:
— “Senhores, já devolvemos o empréstimo ao Estado! Vede a nossa virtude!”
— “E continuamos a recuperar tostões... até o último troço de betão!”
Mas no fundo... o povo nem sabia que ela existia.
E quando perguntam:
— “O que é a Oitante?”
Respondem:
— “É como o nevoeiro: está lá, mas ninguém a vê. Só se sente quando molha.”
Enquanto os tribunais dormem e os bancos renascem em franquias estrangeiras,
o contribuinte, com a sua paciĂŞncia medieval,
acena à distância ao navio,
pensando:
"Que ventos tragam os lucros… mas não nos levem a dignidade."
Um artigo de Augustus Veritas Lumen
"A Oitante — essa caravela de papel amarfanhado — foi lançada ao mar revolto das dĂvidas do Banif com a pompa de um navio de guerra... mas depressa se revelou um barco de papel dobrado por tecnocratas com cursos de Excel. Criada para recuperar crĂ©ditos, acabou por recuperar apenas a arte de desaparecer com milhões, num bailado fiscal invisĂvel onde os credores continuam a dançar ao som do silĂŞncio. Dizem que navega em águas seguras, mas ninguĂ©m sabe se navega ou se já se afundou num oceano de relatĂłrios opacos e promessas por liquidar."