Publicado em 2025-06-04 08:45:45
Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas
Em vez de facilitar, o Estado complica.
Processos que podiam ser resolvidos com dois cliques ou dois carimbos tornam-se sagas labirínticas, em que cada papel precisa de outro papel que, por sua vez, depende de um despacho que nunca mais chega.
Esta máquina kafkiana não é um acaso.
É protegida e perpetuada por um exército de “complicómetros humanos” que, em vez de simplificar, desenham reinos administrativos para se manterem essenciais.
As estruturas administrativas do Estado continuam, em muitos casos, herdeiras diretas do regime anterior.
Mudaram as fardas, modernizaram os computadores, mas mantiveram a lógica taylorista, hierárquica e rígida, onde o chefe é intocável, e qualquer ideia nova é uma ameaça.
Inovação? Só a que não mexa nas cadeiras.
Eficiência? Só se não implicar perder poder.
Transparência? Só para os outros.
Portugal investiu milhares de milhões de euros em plataformas, software, digitalização.
E o resultado?
Mais funcionários públicos do que há 10 ou 20 anos.
Isto não é um paradoxo — é uma fraude funcional:
O Estado é hoje refém de uma cultura de proteção da incompetência, onde o mérito assusta e a reforma incomoda.
Chefias sem visão, dirigentes amarrados à cadeira e técnicos proibidos de pensar.
Portugal criou um Estado que se protege de quem quer melhorá-lo. E quem tenta fazer diferente é visto como perigo público.
Esta ineficiência tem um preço brutal:
Estima-se que a má organização e a má gestão pública custem milhares de milhões de euros ao país todos os anos.
Dinheiro que poderia ser investido em educação, saúde, inovação.
Mas não. É queimado na fogueira da mediocridade protegida.
Portugal não precisa de mais reformas de papel.
Precisa de ruptura, coragem e desinstalação da máquina parasita que se autoalimenta.
O problema do Estado não são os recursos. É a estrutura que se recusa a mudar. E enquanto essa estrutura for comandada por chefes sem ideias, por técnicos sem autonomia e por processos desenhados para impedir a mudança, continuaremos a ser o país da lentidão cara e da incompetência bem paga.