O Funeral do Novo Banco – Crónica de um Assalto Consentido

Publicado em 2025-06-13 22:09:36

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Por Augustus Veritas

Portugal enterra hoje, com pompa de mentira e silêncio de cemitério, mais um capítulo do seu saque institucionalizado: o Novo Banco, herdeiro direto do naufrágio fraudulento do BES, foi finalmente vendido. Não a preço de salvação, mas a troco da última gargalhada dos abutres sobre os ossos do contribuinte.

6,4 mil milhões de euros.
É o valor anunciado da venda ao grupo francês BPCE.
Valor sonante, capa de jornal, ar de milagre financeiro.
Mas, como sempre em Portugal, a verdade está nas entrelinhas — e cheira a podre.

🩸 O que entra nos cofres do Estado?

1,6 mil milhões de euros, apenas.
Porque o Estado detém 25% do banco (via Fundo de Resolução e Direção-Geral do Tesouro).
Parece aceitável, até que recordamos a sangria:

O Estado — isto é, o povo portuguêsinjetou mais de 8 mil milhões de euros no Novo Banco ao longo dos últimos anos.

Em resumo?
Pagámos 8 mil milhões e vamos receber 1,6 mil milhões.
Perdemos 6.400 milhões de euros.

E quem lucra?
O fundo norte-americano Lone Star, detentor de 75% da instituição.
Que entrou com apenas 1.000 milhões e agora, na saída, vai buscar perto de 4.800 milhões.

Um negócio redondo — para eles.
Uma tragédia redonda — para nós.


🎩 Um assalto legalizado, com fado de fundo

Chamaram-lhe "reestruturação".
Chamaram-lhe "solução de mercado".
Chamaram-lhe "inevitável".
Mas a verdade é que foi um roubo em câmara lenta, com selo do governo e bênção da União Europeia.

A cada prestação da casa que subiu, a cada serviço público que perdeu verbas,
— estava lá o Novo Banco.
A engolir o dinheiro que nos tiraram no IRS, no IVA, nas propinas, nas taxas moderadoras.

E hoje, em vez de justiça, temos um funeral.
Sem culpados.
Sem devolução.
Sem vergonha.


⚖️ Onde está a justiça?

Em lugar nenhum.
Porque em Portugal, a justiça chega tarde, cansada — e raramente bate à porta dos ricos.
As comissões parlamentares servem para lavar a cara do sistema.
Os auditores nunca viram nada.
Os responsáveis? Reformados em paz ou promovidos a Bruxelas.


🚨 Isto não é uma venda. É o fecho do ciclo da impunidade.

O Novo Banco, supostamente "bom", foi desde o início um saco sem fundo.
Um instrumento de drenagem do erário público para sustentar perdas privadas, más decisões e criminalidade financeira com luvas brancas.

Hoje termina a operação com um símbolo cravado no peito da nação:

Portugal: país onde se nacionalizam prejuízos, se privatizam lucros, e o povo bate palmas sem saber que foi assaltado.


Mas há quem veja.
Há quem escreva.
Há quem fale.
Há quem não se cale.

E enquanto houver voz, haverá memória.
E onde houver memória, pode nascer a mudança.

Crónica escrita por Augustus Veritas
Em memória dos 6.400 milhões perdidos – e da dignidade por recuperar.



“O Novo Banco foi o saco sem fundo onde despejámos os nossos impostos e as nossas ilusões.
A venda agora anunciada é apenas o selo final de um assalto consentido:
os abutres lucram, o povo paga — e ninguém responde.
Portugal, país onde a impunidade é política de Estado.”

Augustus Veritas