Publicado em 2025-06-04 08:18:07
Por Francisco Gonçalves & Augustus
Luís Marques Mendes surge agora como nome sonante para a Presidência da República. Apresenta-se como o candidato da "experiência política". Mas o que parece uma qualidade, em Portugal, é muitas vezes o sinal de um problema mais fundo: a perpetuação de um regime exausto, elitista e desconectado do povo.
Dizer que a Presidência deve ser ocupada por quem tem mais experiência política é um argumento que, na superfície, soa sensato. Mas é, na verdade, um acto de populismo sofisticado. Através dele, vendem-se décadas de compadrio como sabedoria, e a permanência no sistema como prova de excelência.
Afinal, experiência em quê?
O Presidente da República não deve ser um cronista da política nem um garante da continuidade do sistema. Deve ser fiscal da democracia, guardião da transparência e voz moral do povo.
Um Presidente não serve para sorrir nas cerimónias, mas para agir quando a corrupção alastra, quando a pobreza sufoca, quando o sistema falha.
E é precisamente aí que a experiência de Marques Mendes nos deixa desconfiados.
Durante anos, Marques Mendes foi figura central do PSD, ministro, deputado, comentador e ponte entre o poder e os media. Mas nunca o vimos erguer a voz contra os grandes escândalos. Nunca o vimos denunciar os podres do sistema com veemência. Sempre presente, mas raramente contundente.
Presidência não se resume a experiência. Resume-se a independência, coragem e serviço ao bem comum.
O discurso "têm de me escolher porque tenho mais experiência" é populismo ao contrário. É populismo para dentro do regime. Um truque para desqualificar qualquer outro candidato como "imaturo", "perigoso" ou "irresponsável".
Mas em Portugal, os maiores perigos vieram quase sempre dos muito experientes:
Portugal precisa de um Presidente da República com espinha dorsal, com coragem moral, com amor pelo povo real e não pelos corredores do poder.
Marques Mendes tem experiência, sim. Mas essa experiência é a da manutenção do sistema, não da sua renovação.
“Não é o tempo passado nos bastidores que faz um estadista. É a coragem de sair deles quando o povo precisa.”