Publicado em 2025-06-24 10:23:42
Ou como comparar granadas com extintores para agradar Ă plateia do absurdo
Em mais um episódio do teatro europeu do século XXI, Emmanuel Macron, presidente da République e aspirante a diplomata universal, decidiu oferecer-se como árbitro moral do mundo — não pediram, mas ele foi. Desta vez, tentou encontrar paralelismos entre a brutal e continuada agressão russa à Ucrânia e uma eventual ação preventiva dos EUA face à ameaça nuclear do Irão. Sim, leu bem: comparou cenários como quem mistura foie gras com sardinha em lata — c’est la diplomatie!
Diz Macron, com ar compenetrado e sobrancelha levantada, que os princĂpios do direito internacional devem ser universalmente aplicados. Concordamos. Mas quando se começa a usar a rĂ©gua da moral para medir tragĂ©dias de natureza oposta, a rĂ©gua parte-se. A invasĂŁo da Ucrânia nĂŁo foi um prĂ©-ataque preventivo, nem um erro estratĂ©gico. Foi um ato de barbárie crua, documentado em vĂdeos, cadáveres e cidades arrasadas.
Mas Macron, com o seu eterno desejo de se sentar Ă mesa dos adultos geopolĂticos, resolveu escorregar por entre conceitos, como quem ensaia uma dança entre Churchill e Chamberlain, mas tropeça e acaba a recitar Baudelaire de cuecas na Assembleia da ONU.
O que está em jogo aqui nĂŁo Ă© apenas a confusĂŁo conceptual, mas o perigoso hábito de procurar sempre um “equilĂbrio de culpas” — mesmo onde nĂŁo há simetria nenhuma. É uma espĂ©cie de neutralidade gourmet, servida com guardanapo de seda e molho bĂ©chamel, onde a RĂşssia Ă© sĂł “assertiva demais”, e o IrĂŁo, um “protagonista regional incompreendido”.
No fundo, Macron quer ser o polĂcia bom de um filme onde já ninguĂ©m sabe quem sĂŁo os maus — e isso, amigos, Ă© o verdadeiro perigo. Porque enquanto os diplomatas de salĂŁo escrevem editoriais morais, as ditaduras reais escrevem tratados de morte.
Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos
đź§ "Enquanto Macron tenta ser o polĂcia bom num filme sem herĂłis, a RĂşssia continua a invadir, o IrĂŁo a ameaçar, e a Europa a filosofar entre reuniões de protocolo e pratos de foie gras. A neutralidade gourmet Ă© o novo Ăłpio das elites polĂticas sem coragem."
Excerto de Augustus Veritas