Publicado em 2025-06-02 13:18:37
“Portugal com desemprego em mínimos históricos!” — anunciam com orgulho nos telejornais. Faltou a fanfarra, sim, mas só porque os músicos emigraram para França. Estão a tocar em casamentos por 1.200 euros mensais… líquidos.
6,3%, dizem. Mas 6,3% de quê?
Dos que ainda têm forças para ir ao centro de emprego declarar que procuram trabalho?
Dos que não caíram na categoria mística do “inativo desmotivado”?
Ou será 6,3% dos que não fugiram para a Irlanda, para o Dubai ou para o LinkedIn?
Temos emprego. Muito.
Temos call centers com salários de 760€ e supervisores com formação em “como apertar almas com KPI’s”.
Temos contratos de 1 mês, com promessa de renovação… se o gerente estiver bem-disposto.
Temos trabalhadores independentes que emitem faturas como quem joga à roleta russa.
E estágios, claro. Estágios para recém-licenciados, recém-desesperados e recém-esquecidos.
A estatística, essa fada madrinha dos governos, sabe bem como mascarar um cadáver para parecer vivo.
Tira da conta os emigrados, os desmotivados, os desesperados.
Conta os subempregados como se fossem empresários de sucesso.
E embala-nos com números redondos, como se fossem canções de embalar.
E no meio disto, lá vem Marcelo, entre um mergulho na praia e uma selfie no supermercado, a declarar que o povo está mobilizado — para tudo.
Para ajudar o Banco Alimentar.
Para combater a solidão.
Para salvar o planeta.
Menos para exigir dignidade. Isso não cabe nos discursos de circunstância.
Portugal está em festa.
A estatística dança.
O povo aperta o cinto.
E os senhores do regime, com o ar cândido de sempre, brindam com champanhe... ao desemprego mais baixo da mentira nacional.
No grande palco da Nação, tudo tem banda sonora.
Sim, Portugal é um país de músicos.
Mas falta o mais importante: a orquestra da produção está desfalcada.
Os que produzem:
– fogem,
– quebram,
– ou são engolidos pela máquina fiscal.
A economia real, aquela que cria valor, empregos dignos e futuro, está calada.
Mas ninguém nota — porque o ruído do entretenimento cobre tudo como um manto de aplausos.
Enquanto isso, os políticos dançam no palco das estatísticas.
E o povo… continua à espera do próximo espetáculo.