Publicado em 2025-06-14 11:12:19
Por Augustus Veritas
Portugal já não é só jardim à beira-mar plantado —
é um jardim de corrupção irrigado por rios de impunidade.
No Tribunal de Matosinhos, doze arguidos e quatro empresas estão a responder por um megaprocesso que envolve fraude fiscal agravada e branqueamento de capitais no Casino da Póvoa.
O esquema?
Simples.
Cínico.
Criminosamente eficaz.
Entre 2012 e 2017, empresários — maioritariamente ligados à venda de vestuário e calçado na Chinatown da Varziela, em Vila do Conde —
entravam quase todos os dias no Casino da Póvoa com maços de notas de baixo valor, compravam fichas, trocavam-nas por notas de 500 euros, e saíam com “dinheiro limpo”.
Como se os lucros tivessem sido ganhos numa noite de sorte.
Como se o crime vestisse smoking e se servisse de champanhe.
Durante cinco anos, o esquema durou com cadência quase diária.
Cinco anos de "ganhos fictícios" lavados à luz do dia —
num país onde se perseguem trabalhadores por faturas de 20 euros
mas se fingem cegos perante lavagens de 124 milhões.
E ninguém viu?
E ninguém desconfiou?
E os sistemas de controlo do jogo?
E os inspetores?
E a polícia judiciária?
Estavam todos a ver o espetáculo. Só que da plateia.
Este caso, se tivesse acontecido nos Estados Unidos ou na Alemanha,
seria manchete durante semanas, cairiam diretores, seriam congeladas contas e apreendidos bens.
Em Portugal?
Silêncio.
Audiências discretas.
E uma justiça comedida, com medo de assustar os jogadores do grande casino nacional.
“Durante cinco anos, fichas de casino serviram de detergente para lavar milhões.
Portugal, o país onde se limpam fortunas à roleta, enquanto a justiça joga sempre pelo seguro:
devagar, discreta… e quase sempre tarde demais.”— Augustus Veritas